Gustavo Marcondes*
Nascido aos 7 de dezembro de 1900, em Palmeiras, estado do Paraná, Gustavo Marcondes realizou seus primeiros estudos em sua terra natal, e o curso de contador em Paranaguá. Com vocação para o magistério, destacou-se como professor licenciado para o ensino particular e profissional.
Em 1923, transferiu-se para a cidade de Franca – SP, onde ingressou por concurso público no Banco do Brasil. Já tinha o Espiritismo por convicção e colaborava com a Casa de Allan Kardec. Em 1925, casou-se com D. Mercedes Rufino Selles. No ano seguinte, foi transferido para Ribeirão Preto.
Em 1928, fundou a Escola e a Biblioteca dos Pobres, ministrando diversos cursos de jardim da infância, primário, noturno para adultos e curso prático de comércio. Realizava palestras doutrinárias para divulgação do Espiritismo por toda aquela região. Participava, ainda, da União Espírita de Ribeirão Preto e do Centro “Eurípedes Barsanulfo”, onde idealizou e deu execução aos estudos doutrinários para a juventude, que se consolidou depois num importante movimento em prol da organização das Mocidades Espíritas.
Para Gustavo Marcondes o ato de realizar era muito simples, fácil mesmo. Mas tudo se concretizava por conta da força do seu ideal e da inspiração (da transpiração também) que dele tomava conta.
Em 1934, foi transferido para a cidade de Campinas, onde se aposentou, em 1953. Na cidade, fundou o Instituto Popular “Humberto de Campos” (IPHC) (link para IPHC) voltado para estudantes de baixa renda, com a oferta dos cursos pré-primário, datilografia e prático de comércio.
Em setembro de 1938, juntamente com outros abnegados companheiros, fundou o Centro Espírita “Allan Kardec”, no qual anexou o Instituto Popular “Humberto de Campos”, como um de seus departamentos.
Inaugurou em 1949 a sede própria na Rua Irmã Serafina, 674, no centro da cidade, criando então novos cursos: corte e costura, bordado, trabalhos manuais, preparatório para o ginásio, primário e noturno para adultos. Pouco depois foram criados novos setores, como a Casa dos Meninos, um internato para jovens de 14 a 18 anos, que ali recebiam educação, alimento e moradia. Fundou também a Mocidade Espírita e o Departamento Feminino.
Gustavo Marcondes presidiu o Centro Espírita “Allan Kardec” por mais de 30 anos. Seu desencarne se deu no dia 26 de agosto de 1968.
*Compilado do livro “Cartas do ‘Seu’ Gustavo” – Editora EME.
Servílio Marrone
Filho de imigrantes, pai da Calábria e mãe de Napoli, Servílio Marrone era o quinto de uma família com oito filhos. Nascido em Campinas em 1913, passou toda sua infância e juventude na cidade. Seu pai tinha uma barbearia na rua General Osório, quase esquina com avenida Francisco Glicério, onde a elite campineira se encontrava. Por ali passaram personagens ilustres, como Campos Sales e Ruy Barbosa.
Tradicionalmente católicos, o irmão mais novo de Marrone formou-se padre. O jovem Servílio, porém, sempre tivera um perfil diferenciado e inquieto por natureza, queria saber o porquê das coisas. Não demorou muito para começar a ler os livros de Kardec. Quando, aos 24 anos, casou-se com Maria Ferreira Marques, de apenas 17, já se considerava espírita.
Aos 26 anos, Servílio Marrone era joalheiro, estudioso do Espiritismo e apaixonado pelo Evangelho. Sua loja era localizada na rua Conceição, número 16, próximo ao Largo da Catedral, onde consertava relógios enquanto o sobrinho Aristides cuidava das joias.
Magro, um metro e noventa e quatro de altura e voz grave, Marrone era um tipo difícil de passar despercebido. No encontro com Gustavo Marcondes, na praça Carlos Gomes, a empatia foi imediata. Após comentarem com bom humor o inusitado da situação, continuaram uma conversa amistosa e cheia de planos.
Gustavo Marcondes relembrou sua trajetória no Movimento Espírita, falou das instituições que havia fundado e da intenção de formar um grupo espírita em Campinas. Marrone, mais expansivo, não ficou atrás. Soltou o vozeirão e os trejeitos italianos contando que se dedicava ao estudo do espiritismo havia muito tempo e que seu maior sonho era fundar uma instituição para divulgação da doutrina.
Acertaram então que Marrone seria o responsável por encontrar um local adequado para o grupo espírita e Gustavo Marcondes cuidaria das questões burocráticas e administrativas. Eles ainda não sabiam (ou tinham plena consciência), mas estavam prestes a iniciar uma saga que marcaria suas vidas para sempre.
Poucos dias depois, Marrone apresentou a Marcondes o espaço comercial para locação, no centro de Campinas, também na rua Conceição. Com traços do século dezenove, um salão de bom tamanho e duas salas ao fundo, o local serviria tanto para atividades do Centro Espírita, quanto para as aulas do IPHC. Tudo se desenhou instantaneamente. As duas áreas, claro, seriam independentes, em respeito à liberdade de consciência dos alunos e frequentadores.
Para Marrone, a criação do centro representava a concretização de um sonho antigo. Diferente dos centros espíritas existentes em Campinas, na época, mais limitados às sessões mediúnicas para socorrer almas em apuros, Servílio esperava levar Kardec ao povo, combater o misticismo e investir na promoção social.
Foram necessários apenas três meses para o encontro casual se transformar no CEAK.
Servílio Marrone disseminou o espiritismo não somente dentro do próprio centro, mas em excursões por cidades vizinhas. Visitou asilos, ajudou famílias a amenizarem e curarem doenças desconhecidas no mundo da ciência. Em janeiro de 1955, ao caminhar no centro retornando do horário do almoço, virou-se para desejar um feliz ano novo a um conhecido e foi atingido pelo retrovisor de um ônibus que dobrava a esquina. Foi operado duas vezes, mas as fraturas cranianas foram severas. Ele não resistiu. Aos 42 anos, em plena atividade, Marrone desencarnou, mas seu amor ao próximo e sua facilidade em interpretar o Evangelho de acordo com o Espiritismo, continua a inspirar o trabalho do CEAK até hoje.