Biografias



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Alexandre Aksakof

Os fenômenos de Hydesville verificados no ano de 1848, com as irmãs Fox, nos Estados Unidos, tiveram muita repercussão na Europa.

Diversos homens de ciência estudaram imparcialmente os fenômenos espíritas no Velho Mundo, depois daquele ano. um deles foi o Conde Aksakofi, diplomata russo, autor da grande obra Animismo e Espiritismo.

Alexandre Aksakof nasceu em Ripievka, Rússia, no dia 27 de maio de 1832, tendo desencarnado em 4 de janeiro de 1903. (Seu nome completo é Alexandre Nicolajevic Aksakof, em virtude do que certos autores preferem escrever Aksakov, segundo a grafia de origem).


Nasceu no mesmo ano em que veio a este mundo, na Inglaterra, a maior figura do Espiritismo científico: William Crookes. Os países de origem eslava, como os escandinavos, receberam grande influência do pensador suéco Swedenborg.

Ainda moço Aksakof traduziu obras de Swedenborg. Diplomata, conselheiro privado do Imperador Alexandre III, czar da Rússia, Aksakof pertencia à antiga nobreza de seu país, tendo tido outras honrarias além do título de conde. Não era apenas um diplomata à moda clássica, o homem solene, afeito às etiquetas e ao esplendor das grandes cortes européias, mas um espírito pesquisador, preocupado com a Ciência, com as questões transcedentais.

Quando começou a estudar os fenômenos espíritas, em 1855, estava Aksakof servindo na Alemanha em missão diplomática. Ainda na Alemanha fundou a revista Estudos Psíquicos (1874). Aksakof colaborou nas célebres experiências de materializações do espírito de Katie King, Inglaterra. Mais tarde, em 1892, fez parte de comissão de cientistas reunida em Milão, Itália, para examinar a famosa médium Eusápia Paladino, tendo sido o primeiro a assinar o relatório dessa notável comissão. O referido relatório, que é um documento de alto valor científico, está no livro Fatos Espíritas de William Crookes. Convém notar, Aksakof, em 1881, já havia patrocinado a fundação da revista Rebus, considerado o primeiro órgão de propaganda espírita da Rússia Imperial.

O livro Animismo e Espiritismo, escrito com o propósito de refutar críticas ao Espiritismo, publicado em 1890, aumentou a justa fama de Aksakof nos grandes centros da ciência psíquica.

De fato. Animismo e Espiritismo, traduzido em mais de uma língua, inclusive em potuguês, é uma fonte de consulta ainda hoje respeitada. Homem de convicções inabaláveis, sobrepondo-se aos preconceitos e às conveniências de sua posição social, afirmou conscientemente as suas idéias sem temer o ridículo nem a censura dos que combatiam a Doutrina Espírita. Dizia ele: Não tenho outra coisa a fazer senão afirmar publicamente o que tenho visto, entendido e ouvido. Aksakof é, sem a menor dúvida, uma das maiores expressões culturais do Espiritismo.

Revista Espírita do Brasil – Junho de 1949



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Allan Kardec

Nascido em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804 e desencarnado em Paris, no dia 31 de março de 1869.

Muito se tem escrito sobre a personalidade de Allan Kardec, existindo mesmo várias e extensas biografias sobre a sua obra missionária.

É sobejamente conhecida a sua vida anteriormente ao dia 18 de abril de 1857, quando publicou a magistral obra “O Livro dos Espíritos”, que deu início ao processo de codificação do Espiritismo. Nesta súmula biográfica, procuraremos esboçar alguns informes sobre a sua inconfundível personalidade, alguns deles já do conhecimento geral.


O seu verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. “Hippolite” em família; “Professor Rivail” na sociedade e “H-L-D. Rivail” na literatura era, desde os 18 anos mestre colegial de Ciências e Letras, e, desde os 20 anos renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o pseudônimo de Allan Kardec.

Destacou-se na profissão para a qual fora aprimoradamente educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século XIX, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi. E, em Paris, sucedeu ao próprio mestre.

Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo dos fenômenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não amadurecidas e sem experiência. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo. Dois anos depois, em 1857, divulgava “O Livro dos Espíritos”. Em 1858 iniciava a publicação da famosa “Revue Spirite”. Em 1861 dava a lume “O Livro dos Médiuns”. Em 1864 aparecia “O Evangelho segundo o Espiritismo”; seguido de “O Céu e o Inferno” em 1865. Finalmente, em 1868 “A Gênesis Os Milagres e as Predições”, completava o pentateuco do Espiritismo.

Na ingente tarefa de codificação do Espiritismo, Allan Kardec contou com o valioso concurso de três meninas que se tornaram as médiuns principais no trabalho de compilação de “O Livro dos Espíritos”: Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a concatenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os esclarecimentos complementares. Ultimada a obra e ratificados todos os ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Allan Kardec recorreu a outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan, médiuns intuitivos; a senhora Canu, sonâmbula inconsciente; Canu, médium de incorporação; a Sra. Leclerc, médium psicógrafa; a Sra. Clement, médium psicógrafa e de incorporação; a Sra. De Pleinemaison, auditiva e inspirada; Sra. Roger, clarividente; e Srta. Aline Carlotti, médium psicógrafa e de incorporação.

Escrevendo sobre a personalidade do ínclito mestre, o emérito Dr. Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: “De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço. Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias.

De estatura meã, apenas 165 centímetros, e constituição delicada, embora saudável e resistente, o professor Rivail tinha o rosto sempre pálido, chupado, de zigomas salientes e pele sardenta, castigado de rugas e verrugas. Fronte vertical comprida e larga, arredondada ao alto, erguida sobre arcadas orbitárias proeminentes, com sobrancelhas abundantes e castanhas. Cabelos lisos e grisalhos, ralos por toda a parte, falhos atrás (onde alguns fios mal encobriam a larga coroa calva da madureza), repartidos, na frente, da esquerda para a direita, sem topetes, confundidos, nos temporais, com as barbas grisalhas e aparadas que lhe desciam até o lóbulo das orelhas e cobriam, na nuca, o colarinho duro, de pontas coladas ao queixo. Olhos pequenos e afundados, com olheiras e pápulas. Nariz grande, ligeiramente acavaletado perto dos olhos, com largas narinas entre rictos arqueados e auteros. Bigodes rarefeitos, aparados à borda do lábio, quase todo branco. Pera triangular sob o beiço, disfarçando uma pinta cabeluda. Semblante severo quando estudava ou magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. O que nele mais impressionava era o olhar estranho e misteriosos, cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração a fundo na alma do interlocutor. Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se desviava abstrato para o vago senão quando meditava, a sós. E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e oracional, que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até as explosões de eloqüência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria, educada. Quando distraído, a ler ou a pensar, confiava os “favoris”. Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua tolerância e atenção. Conversando com discípulos ou amigos íntimos, apunha algumas vezes a destra no ombro do ouvinte, num gesto de familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas.”

Pelo seu profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec edificou para todo o sempre o maior monumento de sabedoria que a Humanidade poderia ambicionar, desvendando os grandes mistérios da vida, do destino e da dor, pela compreensão racional e positiva das múltiplas existências, tudo à luz meridiana dos postulados do ninfo Cristianismo.

Filho de pais católicos, Allan Kardec foi criado no Protestantismo, mas não abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo situar-se na posição de livre pensador e homem de análise. Compungia-lhe a rigidez do dogma que o afastava das concepções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e ortodoxias, tornava-o incompatível com os princípios da fé cega.

Situado nessa posição, em face de uma vida intelectual absorvente, foi o homem de ponderação, de caráter ilibado e de saber profundo, despertado para o exame das manifestações das chamadas mesas girantes. A esse tempo o mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos que, por toda a parte, se registravam e que, pouco depois, culminaram no advento da altamente consoladora doutrina que recebeu o nome de Espiritismo, tendo como seu codificados, o educador emérito e imortal de Lyon.

O Espiritismo não era, entretanto, criação do homem e sim uma revelação divina à Humanidade para a defesa dos postulados legados pelo Meigo Rabi da Galiléia, numa quadra em que o materialismo avassalador conquistava as mais pujantes inteligências e os cérebros proeminentes da Europa e das Américas.

A primeira sociedade espírita regularmente constituída foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no dia 1o. de abril de 1858. Seu nome era “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”. A ela o codificador emprestou o seu valioso concurso, propugnando para que atingisse os nobilitantes objetivos para os quais foi criada.

Allan Kardec é invulnerável à increpação de haver escrito sob a influência de idéias preconcebidas ou de espírito de sistema. Homem de caráter frio e severo, observava os fatos e dessas observações deduzia as leis que os regem.

A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um acontecimento tão extraordinário como a Revolução Francesa. Esta estabeleceu os direitos do homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com o universo, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens, dentre eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido equacionados pelas religiões. A missão do ínclito mestre, como havia sido prognosticada pelo Espírito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela não seria apenas de codificar, mas principalmente de abalar e transformar a Humanidade. A missão foi-lhe tão árdua que, em nota de 1o. de janeiro de 1867, Kardec referia-se as ingratidões de amigos, a ódios de inimigos, a injúrias e a calúnias de elementos fanatizados. Entretanto, ele jamais esmoreceu diante da tarefa.

Fonte: site www.espirito.org.br



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Batuira

Antonio Gonçalves da Silva Batuira era português. Ainda criança, veio para o Brasil numa leva de imigrantes. Pouco tempo passou no interior de São Paulo, entregue ao amanho da terra. Assim que pode, tomou o trem na estação mais próxima e desembarcou na Estação da Luz. A vida na capital da Província era outra coisa…

Não tinha nada de seu. Entretanto, na velha Paulicéia, tratou de arranjar trabalho. Como não encontrasse coisa melhor, resolveu entregar jornais. Naquele tempo os diários não davam mais de uma edição por dia, nem eram vendidos nas ruas. Pela manhã, o entregador corria os assinantes, entregando-lhes as folhas.


Pois foi fazendo essa modesto serviço de entrega que o rapazinho conseguiu melhorar de vida. Em 1875 entregava a “A Província de São Paulo”, cujo exemplar custava dois vinténs ou 40 réis. Muito ativo e esforçado, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara de “o batuira”, nome popular de narceja, ave pernalta, bico comprido, que frequenta os pântanos, à volta dos lagos, muito ligeira, de vôo rápido, precedido de muitas voltas rápidas. O nome do rapazinho era Antonio Gonçalves da Silva, mas de então em diante acrescentou ao seu nome o apelido “Batuira”.

Por aquela altura já se dedicava a outra ocupação: manipulava charutos. E, com os charutos, suas finanças floresceram. Homem simples, timbrado em alimentar-se exclusivamente de frutas, ervas e legumas, plantava no quintal o de que necessitava para a alimentação.

Com as minguadas economias comprou os então desvalorizados terrenos do Lavapés. Ali construiu uma boa casa de residência e, ao lado dela, uma rua particular de pequenos prédios que alugava a gente necessitada. O tempo foi seu sócio. Tudo se valorizou. Aquele beco deveria ser mais tarde a Rua Espírita, que ainda lá está.

A sua casa era assim, a um só tempo, hospital, asilo, centro espírita e pouso para quem quer que ali chegasse. Foi doada à Instituição Cristã Beneficente “Verdade e Luz” e hoje lhe serve de sede própria à Rua Espírita, nesta capital, onde a obra iniciada a tanto tempo continua a sua rota gloriosa, honrando a tradição do seu nobre e abnegado fundador.

É ali, entre aquelas paredes mudas, que mais viva se nos torna a evocação querida de um passado dignificante e grandioso!

Das sua núpcias houve um filho que morreu ainda criança, aos doze anos, tendo Batuira, nessa ocasião, dado provas da sua fé inabalável na imortalidade da alma, na certeza absoluta de encontrá-lo na vida de além-túmulo. Fez o seu enterramento como se fora uma festa. Mas onde aparece a bondade evangélica de Batuira é no caso do Zéca. Zéca foi recebido por Batuira com poucos meses de idade. Era uma criança anormal. Débil mental e paralítico. foi criada num carrinho de mão e, empurrado por mãos amigas, passou 45 anos neste inóspito planeta. Morreu em 1933 – sem ter vivido.

Batuira tinha um bolso cheio de sonhos. Trabalhou ao lado de Luiz Gama e de Antonio Bento, na obra da Abolição. Foi protetor de escravos fugidos. Acoitados no seu “cortiço”, só de lá saiam com a carta de alforria.

Em 1873, por ocasião da terível epidemia de varíola que assolou a capital da Provîncia, ele serviu de médico, de enfermeiro, de pai para os flagelados: deu-lhes remédio e os desvelos, mas também o pão, o teto e o agasalho. Daí a popularidade de sua figura.

A frase tradicional a respeito desse assunto era – “Um bando de aleijados viviam com ele”. Quem chegasse, fosse lá quem fosse, “tinha cama, mesa e cobertor”. Certa vez um desses malandros que lhe exploravam a bondade, furtou-lhe o relógio de ouro e corrente do mesmo metal, que se achava em um prego, na parede da sala. Alguns protegidos presentes lhe avisaram. Olhe, senhor Batuira, que fulano lhe furtou o relógio e corrente! Quererá que o prendamos? Por essa ocasião, sua esposa D.Mariquinha, que se pos a lamentar, dizendo: “Oh! o único objeto bom que lhe resta”. E, Batuira respondendo aos que lhe interrogavam, disse-lhes: “Deixa-o, quem sabe precisa mais do que eu”. No dizer de todos que o conheciam, ele sempre preferia aquele que fosse mais descprezado e mais repugnante – “O pior é sempre o que ele toma”.

Era baixo, entroncado e usava longas barbas que lhe cobriam o peito amplo. Com o tempo, essa barba se fez branca e os amigos diziam que ele era tão bom, que se parecia com o Imperador. Foi a glória dos senhorios.

No seu “cortiço” não havia brigas, nem mandados de despejo. Quando um inquilino não podia pagar os aluguéis e afinal, encontrava outro cômodo para morar, ia pedir-lhe o dinheiro para a mudança. E ele dava.

Foi um pioneiro do Espiritismo no Brasil. Ao abraçar essa doutrina, abriu mãos dos haveres em proveito dos necessitados. Dedicou-se de corpo e alma ao formoso sonho. Para começar fundou um jornalzinho de propaganda. Chamava-se “Verdade e Luz” (O primeiro número saiu em 25 de maio de 1890). Nessa obra gastou a velhice. Era de vê-lo trôpego, de grande óculos, debruçado nos cavaletes da pequena tipografia. Com dedos trêmulos, catava letras ariscas no fundo dos caixotins. Sua barba, que parecia a barba do Imperador, alisava as caixas de tipos. Mas o jornalzinho saía. Dizem mesmo que saía com regularidade.

A verdade é que aquele jornalzinho, escrito, composto e impresso por um velho quase analfabeto, tirava 5.000 exemplares. Naquele tempo, era uma grande tiragem. Não sei de outro jornal que o excedesse em popularidade.

É verdade que em São Paulo, durante meio século, quando um pobre ficava doente, ia bater à porta sempre amiga de Batuira, a fim de pedir-lhe a dose de homeopatia. Nem por isso, naquelas priscas eras, se morria mais de uma vez…

Teve vida verdadeiramente evangélica, toda ela consagrada ao Bem dos seus semelhantes e em benefício dos pobres vendeu tudo quanto tinha, distribuindo sua fortuna entre eles.

Esse gesto inédito e eloquente, difícil mesmo de ser imitado até por espírita, por importar em sacrifício de sentimentos arraigados de interesse e utilitarismo prático e imeditado, dos quais infelizmente ainda não nos libertamos – esse gesto, dizíamos, só por si, quando não bastassem muitos outros que praticou de manifesta caridade e desprendimento, bem mostra o alto desse espírito de escól, perfeitamente identificado com a sublime doutrina do Meigo Jesus, cujos passos e ensinos ele procurou seguir de verdade.

Batuira faleceu em 22 de janeiro de 1909. São Paulo inteiro comoveu-se com o seu desaparecimento. Que idade tinha? Nem ele mesmo sabia. Mas o seu nome ficou por aí, como um clarão de bondade, de doçura, de delicadeza do Céu, dessas que se vão fazendo cada vez mais raras num mundo velho, sem porteiras…”

Artigo de Afonso Schmidt e Romeu Camargo (De “A Tribuna”, de Santos)



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Bezerra de Menezes

ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTE, nasceu em Riacho do Sangue, hoje Jaguaretama/CE, em 29 de agosto de 1831 e Desencarnou em 11 de abril de 1900.

Foi: Médico; Redator e Político( Vereador; Prefeito Deputado e Senador).

Foi casado duas vezes e teve 9 filhos sendo: dois do primeiro casamento e sete do segundo. De família católica e tradicional do Ceará , teve no seio de sua família e na figura de seu Pai, um modelo de probidade, justiça e retidão, que soube como poucos seguir por toda sua existência.


Muito cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois aos 11 anos de idade iniciava o curso de Humanidades e aos 13 anos, conhecia tão bem o Latim que, na ausência e impedimentos do professor, lecionava a seus colegas de classe. Foi o primeiro aluno de sua turma no Liceu da capital Cearense.

Durante sua infância, a contrário de seus irmãos que puderam estudar e se formar em Leis pois seu Pai tinha bens de fortuna, devido a generosidade do mesmo para com o próximo, traço herdado por Bezerra de Menezes, viu-se com o cofre paterno esgotado e sentiu desde tenra idade, a necessidade de enfrentar a rudeza da vida.

Disposto a estudar Medicina, em 1851 mudou-se para o Rio de Janeiro e para poder custear os estudos, ingressou como interno na santa casa de Misericórdia. Para conseguir se manter dava aulas de Filosofia e Matemática.

Doutorou-se em 1856 na Faculdade de Medicina com a tese “Diagnóstico do Cancro”.
Foi empossado na Academia Imperial de Medicina em 01 de junho de 1857, depois de ter apresentado um trabalho memorável sobre o tema “Alguns Aspectos do Cancro, Encarado pelo Lado do Tratamento”. Foi nesta mesma época que abandonou seu último patronímico, passando a assinar Adolfo Bezerra de Menezes.

Em 1858 foi nomeado Cirurgião – Tenente

De 1858 a 1861, foi redator dos “Anais Brasilienses de Medicina”, da Academia Imperial de Medicina.

Exerceu vários cargos na vida publica e na política, sem ter nada contra si, a não ser o fato de defender intransigentemente os direitos dos necessitados.

Criou a Cia de Estradas de Ferro de Macaé a Campos.

Participou ativamente da campanha abolicionista.

Legou-nos uma vasta obra literária de cunho espírita, filosófico e de temas regionais tais como: ‘Breves considerações sobre as secas do Norte”; “A Escravidão e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação”; A Casa Assombrada”; A Loucura sob Novo Prisma”; “A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica”; “Casamento e Mortalha”; “Pérola Negra”; “Lázaro – o Leproso”; História de um Sonho”; Evangelho do Futuro”, entre outras. Escreveu ainda várias biografias de homens célebres entre eles, o Visconde do Uruguai e o Visconde de Caravelas.

Foi redator de “ A Reforma”, órgão liberal da Corte e, também, do jornal “Sentinela da Liberdade’.

Conheceu o Espiritismo em 1857, através de um exemplar do livro dos espíritos e com o lançamento em 1883 do reformador, passou a ser seu colaborador, escrevendo artigos judiciosos sobre o catolicismo.

Em 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da “Melhor Sociedade”, enchia a sala de honra da Guarda Velha, para ouvir em silêncio, emocionado e atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava sua pública, solene e decidida conversão ao Espiritismo.

Foi presidente da FEB, estudou metodicamente o Livro dos Espíritos. E traduziu “Obras Póstumas”. Afastou-se da FEB por motivos políticos porém, nunca do espiritismo. Quando a cisão dentro do movimento espírita se fez profunda, Bezerra de Menezes foi chamado por ser o único capaz de unificar a família espírita. Aos 63 anos de idade o infatigável batalhador assumiu a presidência da Federação Espírita Brasileira

Criou vários grupos espíritas , entre eles o grupo Ismael, onde trabalhou por muitos anos.

Defendeu os direitos e a Liberdade dos espíritas contra certos artigos do Código Penal. Em meados de 1900 foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria.

Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada tinha. Todos vinham chorar a morte do maior dos amigos especialmente, aqueles vindos dos morros, das favelas, gente humilde, descalça, maltrapilha, os pobres de espírito, os humildes de coração, beneficiados pela medicina do seu amor, ali se achavam em mistura com outra gente rica e poderosa, pertencente ao mundo oficial do Governo e às entidades culturais do Distrito Federal. Todos choravam como se tivessem se afastado de um Pai.

Bezerra de Menezes abdicou da possibilidade de ter uma vida de riqueza e fartura, em favor daqueles humildes que, por sua abnegação em atendê-los sem nada cobrar, valeu-lhe o merecido título de “O Médico dos Pobres”, título esse que no dizer do próprio Bezerra, era a maior riqueza que possuía.

Bezerra de Menezes tinha o encargo de médico como um verdadeiro sacerdócio por isso, dizia “ Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem como pagar a receita, ou diz a quem chora á porta que procure outro, esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um infeliz, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única esportula que podia saciar a sede de riqueza de seu espírito, a única que jamais se perderá nos vais – e – vens da vida”.

Depois de tão emocionante lição que serve para se aquilatar a alma bondosa, generosa e desprendida de tão maravilhoso irmão, só nos resta inserir o acontecimento da chegada de Bezerra de Menezes à espiritualidade, extraída do livro O Semeador de Estrelas, de Sueli Caldas Schubert.
“um dia perguntei ao Dr. Bezerra de Menezes, qual foi sua maior felicidade quando chegou ao plano espiritual . ele responde-me:
A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito onde eu ainda estava dormindo, e, tocando-me, falou, suavemente:
Bezerra, acorde, Bezerra!
Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa.
– Minha filha, é você Celina?!
– Sim, sou eu, meu amigo. A mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida Maior, havendo atravessado o pórtico da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte feliz.
Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar. Mas, eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina me disse:
– Venha ver, Bezerra.
– Ajudando-me a erguer-me do leito, amparou-me até uma sacada, e eu vi, meu filho, uma multidão que me acenava, com ternura e lagrimas nos olhos.
– Quem são Celina? – perguntei-lhe – não conheço a ninguém. Quem são?
São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar-lhes o nome. São aqueles Espíritos atormentados, que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico da eternidade.
E o Dr. Bezerra concluiu:
– A felicidade sem lindes existe, meu filho, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que enxugamos, das palavras que semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorreremos.

O “médico dos Pobres”, o amigo de todos, o Pai de muitos, aquele que em nome do Amor tudo tolerava, após mais de 100 anos de seu desencarne, é vitima da intolerância política e religiosa que tanto combateu pois, assistimos perplexos uma Sra. Vereadora da cidade do Rio de Janeiro, por conta e em nome de preceito religioso (ela é Protestante), mandou retirar de seu gabinete o quadro que retrata o Dr. Bezerra de Menezes, de autoria do renomado pintor português Antônio Rodrigues Duarte, trazendo na parte inferior da moldura uma placa de prata com a seguinte inscrição: “Tributo do maior respeito e consideração que, em homenagem ao grande talento e honrado caráter do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, consagram os súditos portugueses, residentes nesta Corte. Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1879”.

Tal ato de flagrante demonstração de preconceito da vereadora em questão, ao contrário do que ela própria imagina, ao invés de depor contra tão ilustre personagem, serviu para que a chefia do cerimonial da Câmara, colocasse o quadro onde sempre deveria estar – na sala do próprio cerimonial – onde todos quanto ali cheguem, possam ser invadidos pela paz, harmonia e amor que sua figura desperta naqueles que tem oportunidade de olhar para tão doce e serena feição.

Ironicamente, a Sra. vereadora foi eleita por um partido cuja sigla é a mesma do partido pelo qual Bezerra de Menezes fez sua vida Pública. É evidente que, as coincidências param por ai, diante da atitude da infeliz parlamentar.

Só nos resta seguir as lições deste modelo de Amor ao Próximo que foi e continua sendo Bezerra de Menezes, para a cada dia mais, seguirmos os ensinamentos de Jesus.



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Caírbar Schutel

No dia 22 de setembro de 1868, filho do casal Anthero de Souza Schutel e Rita Tavares Schutel, nasceu Caírbar de Souza Schutel, no Rio de Janeiro, então sede da Corte Imperial do Brasil, onde praticou em diversas farmácias e aos 17 anos de idade foi para o Estado de São Paulo, trabalhando como farmacêutico em Piracicaba, Araraquara e depois em Matão, cidade em que viveu durante 42 anos.


Possuidor de brilhante cultura, de grande prestígio social e sobretudo de notória autoridade moral, acabou sendo escolhido para o honroso e histórico cargo de primeiro Prefeito da cidade de Matão, cargo que ocupou por duas vezes, a primeira de 28 de março a 07 de outubro de 1899, voltando a exercê-lo de 18 de agosto a 15 de outubro de 1900, conforme consta das atas e dos registros históricos da municipalidade matonense.

Nascido em família católica, batizado aos 7 anos de idade, Caírbar Schutel cumpria suas obrigações perante a Igreja de Roma. Entretanto, já adulto e vivendo em Matão, passou a receber, em sonhos, a visita constante de seus falecidos pais, porque ele ficara órfão de ambos com menos de 10 anos de idade. Insatisfeito com as explicações de um padre para o fenômeno, Schutel procurou Quintiliano José Alves e Calixto Prado, que realizavam reuniões de práticas espíritas domésticas, logrando então entender a realidade do mundo extrafísico.

Convertido ao Espiritismo, cuidou logo de legalizar o Grupo (hoje Centro) Espírita Amantes da Pobreza, cuja ata de instalação foi lavrada no dia 15 de julho de 1905. Resolvido a difundir a Doutrina Espírita pelos quatro cantos do mundo – e mesmo vivendo em uma pequena e modesta cidade no interior do Brasil -, o “Bandeirante do Espiritismo”, como ficou conhecido Caírbar Schutel, fundou o jornal “O Clarim” no dia 15 de agosto de 1905, e a RIE – Revista Internacional de Espiritismo no dia 15 de fevereiro de 1925, ambos circulando até hoje.

Além disso, o incansável arauto da Boa Nova, com todas as dificuldades da época e da região, viajava semanalmente até a cidade de Araraquara para proferir, aos domingos, as suas famosas 15 “Conferências Radiofônicas”, pela Rádio Cultura de Araraquara (PRD – 4), no período de 19 de agosto de 1936 a 02 de maio de 1937.

Escritor fértil, entre 1911 e 1937 escreveu os livros O batismo, Cartas a esmo, Conferências radiofônicas, Histeria e fenômenos psíquicos, O diabo e a igreja, Espiritismo e protestantismo, O espírito do cristianismo, Os fatos espíritas e as forças X…, Gênese da alma, Interpretação sintética do apocalipse, Médiuns e mediunidades, Espiritismo e materialismo, Parábolas e ensinos de Jesus, Preces espíritas, Vida e atos dos apóstolos, A questão religiosa, Liberdade e progresso, Pureza doutrinária, A vida no outro mundo e Espiritismo para crianças.

Para publicá-los, Schutel não mediu esforços: adquiriu máquinas, papel, tinta, cola e outros insumos para impressão, procurando escolher sempre material de primeira categoria. Desse esforço surgiu a Casa Editora O Clarim, que hoje emprega inúmeros funcionários em Matão, tendo publicado mais de cem títulos de obras de renomados autores, encarnados e desencarnados.

Consciente de sua responsabilidade como cidadão, cuidou de regularizar a sua união com Dª. Maria Elvira da Silva e Lima, com ela se casando no dia 31 de agosto de 1905; o casal Schutel não teve filhos carnais, porém sua dedicação aos semelhantes ficou indelevelmente marcada na história de Matão, uma vez que ambos jamais deixaram de atender aqueles que os procuravam.

Depois de curta enfermidade, Caírbar Schutel faleceu em Matão, no dia 30 de janeiro de 1938. Durante e após suas exéquias, inúmeras pessoas de Matão, das cercanias, do Estado de São Paulo e de diversas regiões do Brasil prestaram-lhe comovente tributo de gratidão e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, tendo certamente cumprido a sua missão.

Aliás, o prestigioso jornal “A Comarca”, de Matão, em sua edição de 6 de fevereiro de 1938, consignou o seguinte: “É absolutamente impossível em Matão falar-se quer da nossa história passada, quer da nossa história hodierna sem mencionar Caírbar Schutel. Caírbar Schutel foi, para Matão, um dínamo propulsor do seu progresso, um arauto dedicado e eloqüente das suas aspirações de cidade nascente. Mais do que isso foi o homem que, como farmacêutico, acorria com o seu saber e com a sua caridade à cabeceira dos doentes, naqueles tempos em que o médico era ainda nos sertões que beiravam o “Rumo”, uma autêntica “avis rara”.

“Militando na política por algum tempo, a sua atuação pode ser traduzida no curto parágrafo que abaixo transcrevemos, fragmento de um discurso pronunciado em 1923, na Câmara Estadual, pelo Deputado Dr. Hilário Freire, quando aquele ilustre parlamentar apresentou o projeto da criação da Comarca de Matão. Ei-lo: “Em 1898, o operoso, humanitário e patriótico cidadão Sr. Caírbar de Souza Schutel, empregando todo o largo prestígio político de que gozava, e comprando com os seus próprios recursos o prédio para instalação da Câmara, conseguiu, por intermédio de um projeto apresentado e defendido pelo Dr. Francisco de Toledo Malta, de saudosa memória, a criação do município de Matão”.

Dizem algumas comunicações mediúnicas que o Espírito Caírbar Schutel está, no mundo espiritual, encarregado pela divulgação do Espiritismo na Terra; sendo confirmada tal informação, essa nobre tarefa está muito dirigida, porque o movimento espírita deve muito ao querido “Bandeirante do Espiritismo”, assim como à sua digníssima esposa Dª. Maria Elvira da Silva Schutel, pois, como diz a sabedoria popular, ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher!

Eliseu F. da Mota Júnior – Extraído do site www.espirito.org.br



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Camille Flammarion

Nasceu em 21 de fevereiro de 1842 em Montigny-le_Roy, região do Alto Marne, França, tendo desencarnado em 1925, aos 83 anos de idade.

Tendo sido encaminhado para a carreira eclesiástica, chegou a cursar o seminário de Langres, mas logo cedo abandonou o seminário e se dedicou ao estudo da Astronomia, ciência de sua vocação.

Com vinte anos apenas, isto é, em 1862, publicou uma obra de grande repercussão: A Pluralidade dos Mundos Habitados. Em 1865 inaugurou um curso de Astronomia Popular.


Absorvido pelos problemas astronômicos, querendo cuidar exclusivamente da Astronomia, deixou os empregos oficiais, tendo-se consagrado, por assim dizer, de corpo a alma ao pequeno Observatório de sua propriedade.

Em 1882 fundou a Revista Astronômica, bem como o Obervatório de Juvisy. Fundador da Sociedade Astronômica da França, deixou o seu glorioso nome ligado, e de maneira indelével, a várias outras instituições científicas, notadamente, o Observatório de Paris, onde a sua memória continua a ser cultuada com veneração e carinho.

Flammarion publicou numerosos trabalhos científicos, inclusive a ampliação do Atlas Celeste.

Quanto ao Espiritismo, Flammarion é um dos pioneiros desta doutrina. Contemporâneo e amigo de Allan Kardec, converteu-se francamente à 3a.Revelação, tendo escrito, como se sabe, trabalhos notáveis. V.”Reformador” 16 de junho, 1925: Do valor e da eficiência do concurso que prestou ao Mestre dizem suficientemente os luminosos ditados que, através do seu lápis de excelente médium psicógrafo, deu o Espírito de Galileu, ditados que, com outros de subido quilate, opulentam o volume da Gênesis*, de Kardec.

“A Morte e seu Mistério”, por exemplo, é um livro documentado, todo apoiado em fatos para provar a tese espírita da sobrevivência da alma. Em “Deus na Natureza”, livro opulento e irrespondível, Flammarion destrói a tese do materialista Buchner, autor do livro “Força e Matéria”, que tanta discussão provocou no século passado.

Flammarion foi, finalmente, amigo fiel do codificador do Espiritismo. Seu magistral discurso proferido à beira do túmulo de Kardec, por haver sido escolhido para falar em nome dos espíritas de Paris, faz parte de “Obras Póstumas” de Kardec. Nesse discurso, o insigne astrônomo francês pronunciou, a certa altura, estas palavras verdadeiramente lapidares: Fôra Allan Kardec um homem de ciência e de certo não houvera podido prestar este primeiro serviço e dilatá-lo até muito longe, como um convite a todos os corações. Ele, porém, era o que eu denominarei simplesmente “O bom senso encarnado”. Últimas palavras: Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista

 

Fonte: Revista Espírita do Brasil – Fevereiro / 49



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Sir Artur Conan Doyle

No dia 7 de julho de 2007 fez 94 anos que desencarnou em Windlesham, Crowborough, Inglaterra, um dos mais populares escritores de todos os tempos e figura proeminente do Espiritismo, que afrontou o ridículo de seus pares com a serenidade e nobreza de quem sente a verdade de uma convicção e tem língua para manifestá-la. Esse homem foi Sir Artur Conan Doyle, nascido em 1859 e formado em medicina pela Universidade de Edimburgo.


Antes de abraçar a nossa Doutrina, dedicou-se ao romance a à novela policial e seus trabalhos nesse sentido correram mundo traduzidos em todas as línguas. Foi o criador da figura conhecidíssima de Sherlock-Holmes, o célebre policia-amador que tamanho interesse e emoção despertou nos adolescentes das duas gerações.

Era materialista-deísta, quando assistiu às primeiras sessões com a mesa de pé-de-galo e leu as Memórias do Juiz Edmonds. O seu interesse, ou antes curiosidade, mesclava-se de ceticismo; mas lia todos os livros congêneres que apareciam: “Enquanto considerei o Espiritismo como ilusão vulgar de ignorantes, tratei-o com desprezo. Mas quando o vi apoiado por sábios como Crookes, o maior químico inglês, por Wallace, o rival de Darwin, e por Flammarion, o mais conhecido dos astrônomos, já não pude desprezá-lo”.

O relatório da Sociedade Dialética de Londres impressionou-o muito e em 1891 ingressou, como sócio nessa douta agremiação.

A Personalidade Humana, de F.Myers, foi talvez o livro que mais contribuiu para que ele aceitá-se o Espiritismo. Agora, já pouco lhe interessavam os fenômenos em si. O que o preocupava era o conteúdo das mensagens.

_ Então a inteligência humana podia continuar a existir, mesmo depois da morte do corpo?

O terreno fugia-lhe debaixo dos pés. Onde estava o seu agnosticismo?

Mas o nosso objetivo não é biografar o grande escritor inglês, que pertence ao público e à literatura. Queremos dar apenas alguns traços do seu caráter o do seu labor na defesa da Causa e lembrar que sua esposa, Lady Conan Doyle, foi a Egéria providencial que o amparou nas suas digressões de propaganda, embora a princípio o contrariasse nos estudos psíquicos, por julgá-los perigosos.

Contudo, as suas próprias experiências convenceram-na do contrário, através da comunicação de um irmão carnal que fora morto em Mons e lhe dera identificações que lhe minaram a descrença.

Mulher devotada, viu-se algumas vezes obrigada a afastar-se dos filhos; amante do lar, teve que abandoná-lo para acompanhar o marido; receosa do mar, fez inúmeras viagens. Percorreu mais de 60.000 milhas. A sua gracilidade, o seu bom humor, o seu fino trato e a simpatia que irradiava, tudo isto aliado ao papel de conselheira junto de Sir Conan Doyle, transformaram o trabalho do escritor em fonte perene de alegria.

O médico célebre e o novelista vibrante desapareceram, por fim, sob o entusiasmo do espiritista que não temia o sarcasmo e o riso zombeteiro dos espíritos fortes. Corroborava a frase de Roosevelt: A maior satisfação de um homem é lutar por causas impopulares que repute de verdadeiras.

E, assim, fez uma viagem à Africa do Sul. Esteve no Cabo da Boa Esperança, na Rodésia e em Nairobi, onde falou a auditórios de 10.000 pessoas, sempre escutado com admiração e interesse.

Conan Doyle falava bem. “Em três anos de seguidas conferências – escreve ele – durante os quais visitei quase todas as nossas cidades importantes, nunca fui interrompido e tenho a convicção de jamais haver maçado os ouvintes”.

Convencerá-se de que o Espiritismo era mensagem revolucionária de alta importância humanista, não só para a ciência, para a medicina e para a criminologia, mas também destinada à filosofia, à religião. Era uma revelação de verdade, antiga como as velhas legendas e transformada em água fresca a jorrar com força de nascente…

Foi um grande defensor dos médiuns. Demonstrou-o durante a gerência do ministro do interior William Johnson Hicks. A sua palavra combateu denodamente o decantado Wagrancy Act, essa estranha lei de há dois séculos que os juízes ingleses tiram do pó, afim de aplicarem aos médiuns modernos, como se fossem “ladrões e vagabundos!”.

_ Sente-se que o Espiritismo é a única doutrina sem liberdade religiosa! – exclamava ele – Os negros da Africa e dos nossos Domínios têm liberdade religiosa, ao contrário dos espiritistas da Metrópole. Eis, porque resolvo lutar até o fim contra esta anomalia!

Isto dizia Sir Artur Conan Doyle uma semana antes de abandonar a terra. Os espiritistas ignoram o extraordinário esforço que ele despende durante mais de 20 anos em prol da Doutrina, escrevendo, falando e gastando rios de dinheiro.

Publicou alguns livros acerca do Espiritism, entre eles, “The New Revelation (A Mensagem Vital)” e “Memories anda Adventures (Memórias e Aventuras)”; todavia, a sua obra de maior fôlego é a História do Espiritualismo Experimental, em dois grandes volumes.

Sir Artur Conan Doyle era, ao mesmo tempo, homem generoso e bonacheirão. Sua esposa contou a um jornal inglês o seguinte fato que revela a extrema bondade deste pioneiro que chegou a dirigir o movimento espírita na Grã-Bretanha:

“Um dia regressava ele de um passeio, quando encontrou à porta um mendigo quase descalço e pedir que lhe desse alguma coisa. Meu marido descalçou as botas e deu-as ao pobre homem. Ações destas eram coisas vulgares na sua vida de relação”.

Iluminou e animou milhões de almas:

“There is no Death, What seems so is Transition”.

Não há morte; o que há é transição.E assim é, de fato.

Na última edição do seu livro “Memórias e Aventuras”, escrevia: “O leitor julgará que tenho tido muitas aventuras. A maior e mais gloriosa de todas é a que me espera agora”. Referia-se à viagem da morte.

Pouco tempo depois iniciava essa viagem misteriosa. Os seus restos mortais foram sepultados no jardim onde trabalhava. Junto ao túmulo grandes árvores erectas, como sentinelas gigantescas; ao lado, lindos tufos de verdura e canteiros de flores variegadas e odoríferas.

O caixãoia coberto de flores. Poucas pessoas de luto. Sua esposa vestia verde escuro. Miss Jean Doyle ia de cinzento. Sua irmã Mary Doyle ia de castanho-escuro. Ele não queria ambientes de câmara mortuária; queria luzes acesas e janelas abertas.

As últimas palavras do homem foram para sua esposa: “You are wonderful!” (Você é admirável). Para ela foi também a sua primeira mensagem do Além…

RESPOSTA DE CONAN DOYLE A UM INQUÉRITO DA “REVISTA DE ESPIRITISMO”, DE PORTUGAL

“Caro Senhor:

Eu era um agnóstico e pensava que com a morte tudo findava. Nessa altura li opiniões de homens como Sir William Crookes, o Químico, de Wallace, o Naturalista, de Thiers, o Presidente, de Victor Hugo e outros. Senti que devia examinar o assunto. Confirmei minuciosamente pelas minhas próprias experiências tudo o que eles diziam e soube que era verdade.

Eu não ligo importância aos fenômenos a não ser porque chamam a atenção para as comunicações. Não penso que as mensagens dos que amamos e perdemos sejam a finalidade do Espiritismo. A verdadeira revelação vem quando entramos em contato com o espíritos elevados que nos explicam aquelas verdades religiosas que têm sido tão mutiladas e incomprendidas pelo gênero humano, só deturpadas e adulteradas pela insensatez do mundo, resolvendo as nossa dificuldades e explicando a mensagem real dos Cristos que, de tempos a tempos, fazem conhecer os desígnios de Deus a várias nações do mundo. É a Religião univesal do futuro que nos está sendo revelada. Esta religião consistirá na pura moral de Cristo diretamente aliada a uma constante e consciente comunicação com os altos poderes do mundo dos Espíritos.

Sinceramente seu

(a) ARTHUR CONAN DOYLE”

Curso de Noções Elementares de Espiritismo – 1954




Daisy Jurgensen Machado

Espírita desde criança, chegou ao Centro Espírita Allan Kardec, de Campinas/SP, ainda jovem, onde desempenhou várias atividades, tendo presidido a casa durante décadas, em merecidas eleições e reeleições. Sua vida confundiu-se com a própria história da instituição. Fortemente movida pelo ideal, vivenciando o Espiritismo em toda a sua plenitude, ela representava um manancial de conhecimento teórico e prático da Doutrina, que disseminava, pelo testemunho do exemplo, em todas as obras que realizava.


É autora dos livros Acolhimento Fraterno na Casa Espirita e Léon Denis e o Congresso Espírita Internacional de Paris de 1925



Euripedes-Barsanulfo


Eurípedes Barsanulfo

Extraído do livro “Eurípedes Barsanulfo – Apóstolo do Bem”, de Odilon J.Ferreira

Na cidade de Sacramento, Minas Gerais, num lar honrado e pobre, baixou das alturas um bondoso espírito que recebeu o nome de Eurípedes Barsanulfo, a 1o. de maio de 1880.

Desde cedo, sentiu uma grande inclinação pelos livros. Preocupado com a maneira de adiquiri-los, encontrou solução para o caso, na pesca, pois, vendendo peixes, auxiliava o pai na compra dos livros. Seu pai, mais tarde, prosperou no comércio e pode, assim, dar o necessário conforto à sua família.


Barsanulfo brilhou como aluno inteligente, estudioso e dócil e dentro em pouco se tornava o primeiro dentre seus colegas. Propenso ao magistério, iniciou o seu tirocínio ensinando aos irmãos menores. Mais tarde colaborou na fundação do Liceu Sacramento, onde lecionou com brilhantismo.

Naquela época, recebendo Sacramento a visita do Dr.Pedro Salazar, amante da instrução, foi esse bondoso paraibano unir-se ao Dr. João Gomes Vieira de Mello, Eurípedes Barsanulfo, Theófilo Vieira, Prof.Ignácio Martins de Mello, Pe.Pedro Ludovico de Santa Cruz, José martins Borges, o velho Monteiro, Cel.José Pereira de Almeida e outros elementos sociais, e resolveu-se a fundação do “Liceu Sacramento” e da “Gazeta de Sacramento”, isto provavelmente em 1902, estando Eurípedes, portanto, com 22 anos de idade, apenas!

Barsanulfo foi o professor que todos amam, porque tinha esse dom sagrado de guiar as inespertas inteligências para a Luz, sem causar-lhes esse temor tão comum na ação dos professores de seu tempo.

Por essa época, ele professava o Catolicismo Romano, em que fôra educado desde o berço. Bem moço ainda, foi eleito presidente da Irmandade de São Vicente de Paulo, cargo em que prestou importantes serviços.

Eurípedes pertenceu à Câmara Municipal de sua cidade, na qualidade de Vereador Especial, cargo de que se aproveitou para dotar a terra natal do que tem de melhor em matéria de legislação.

Sua conversão

Cerca de dezoito quilômetros de Sacramento, existe uma pequena povoação composta de espíritas, o mais antigo núcleo de crentes daquelas redondezas – é Santa Maria. Residindo alguns parentes seus naquela localidade e atraído pelas curas maravilhosas alcançadas por seus tios – bons médiuns que eram – e impressionado com o conjunto de fatos ligados a essas curas, com as lições científicas, filosóficas, de profundeza tão fora da possibilidade dos que lá habitavam e que ele bem conheciae sabia ineptos, resolveu ir a Santa Maria para auscultar de perto a fonte prodigiosa de tantos fenômenos.

Honesto, bom e sem idéias preconcebidas, pode estudar os fatos, pondo desde logo, após uma verificação criteriosa, fora de toda possibilidade, a fraude, com que os inimigos do Espiritismo sempre tentam denegrir a nossa crença. Uma sessão proveitosa a que assistiu e a leitura metódica das obras de Allan Kardec, com o propósito sincero de aceitar ou não o Espiritsmo, fizeram com que Barsanulfo, em pouco tempo, sentisse no seu coração as novas luzes da Doutrina Redentora.

No início do seu apostolado, um Espírito que se intitulou de Protetor os Orfãos, desejou dificultar o trabalho de Eurípedes, e, estando um dia em sua cátedra, no Liceu Sacramento, ouviu de repente uma voz dulçorosa que se dizia de São Vicente de Paulo, que lhe teria dito: “Trabalha, meu filho és um missionário. Vai pregar a Verdade mundo afora; ela está no Espiritismo”. Julgando que necessitaria pregar fora dali o Espiritismo, comunica o fato aos seus discípulos que, debulhados em pranto, seguiam-no, deixando a população estarrecida pelo inesperado acontecimento. Entretanto, o verdadeiro São Vicente de Paulo e também Santo Agostinho, ali estavam para amparar o seu querido filho, utilizando a ação daquele irmão que desejava desviar Barsanulfo de sua gloriosa senda. Tempos depois, surgiu-lhe a mediunidade e, atendendo a um conselho de São Vicente de Paulo, fundou em 1905, o Colégio “Allan kardec” e o Grupo Espírita “Esperança e Caridade”, nascendo, assim, em Sacramento, o Espiritismo.

Suas lutas

Eurípedes estava, então, empenhado na satisfção da vontade dos luminares do espaço, com os quais confabulava, graças às faculdades mediúnicas que possuia. Médium curador, vidente, falante, ouvinte, receitista, psicógrafo, possuidor do dom do desdobramento, de estupenda acuidade espiritual, Barsanulfo transformou-se no primoroso instrumento dos emissários do bem. Dirigia o Colégio “Allan Kardec” e ali ministrava Português, Francês, Astronomia, Física, Química, História Natural e também a Doutrina Espírita, auxiliado por seus irmãos Watersides Willon e Homilton Wilson e alguns discípulos dedicados; presidindo o Grupo Espírita, recebendo e moralizando espíritos que ali baixavam; superintendendo a farmácia já transformada em alopática e, exercendo a medicina e cirurgia na cidade e redondezas, preparando e remetendo medicamentos e receituários para qualquer parte, Eurípedes já não tinha mais um minuto para uma palestra amiga, a não ser nos trânsitos da farmácia para o Colégio, deste para alguma casa onde sua presença era reclamada! E quando repousava o corpo cansado, o espírito aparecia a seus doentes, que o viam no leto de dor, reconfortando-os.

Não apenas de sacramento, mas de todos os recantos chegavam doentes e obsidiados para serem curados, e todos recebiam o tratamento homeopático, aconselhado pelo espírito do querido Bezerra de Menezes, com quem Barsanulfo mantinha amistosas conversações. Quantos desenganados pela medicina oficial não se curavam em Sacramento! Aquela cidade, pequena, insignificante, tomou vulto e chegou a possuir muitos hotéis e mais de vinte pensões. A qualquer hora do dia ou da noite, com uma simples pancada na janela de seu quarto, contíguo à farmácia, respondia com o seu invariável “pronto!”, e a porta era imediatamente aberta, fosse para quem fosse.

Como acontece com todas as criaturas que se dedicam de boa vontade a ajudar o próximo, fazendo sempre o melhor bem possível, também Eurípedes sofreu tremenda campanha. Católicos de sacramento, aliados a um infeliz médico de Uberaba, católico, que ao lado de sua residência mantinha uma capela de Nossa Senhora de Lourdes, moveram contra o benfeitor sacramentano a mais execrável perseguição, culminada por um processo penal por exercício ilegal da medicina! Todavia, não houve juiz que quisesse pronunciar a Eurípedes, e o processo, depois de andar de “Herodes para Pilatos”, em todos os distritos da grande comarca, foi julgado prescrito por falta de pronúncia! Quando o Delegado da Polícia, encarregado do inquérito policial, mandou notificá-lo para comparecer, Barsanulfo, de valise em punho, repleta de ferros cirúrgicos e antisséticos, pediu-lhe que fosse concedida permissão de ministrar as suas declarações por escrito, porque naquele instante ia atender a uma parturiente que necessitava de uma intervenção cirúrgica urgente. E saiu apressadamente no cumprimento do seu dever! Os admiradores – e eran tantos! – já desesperados queriam solucionar o caso pelas armas, mas o coração boníssimo de Eurípedes evitou que isso acontecesse, aconselhando calma a todos e um enterro simbólico do processo, foi o final alegre do incidente.

Seus invejosos inimigos julgaram que poderiam lançar sobre ele a pecha de ignorante e embusteiro e promoveram um debate público, em frente à Matriz, entre Barsanulfo e o orador sacro Pe.Feliciano Yague. Em primeiro lugar, falou o Padre. Grita, esbraveja, qualificando a nossa crença de diabólica, pretendendo provar que o demônio seja o agente principal dos fatos espíritas. Depois em linguagem incendiada pelo ódio aos espíritas, xingá-os de maneira horrível, sem a mínima compostura, ameaçando-os com as caldeiras dos infernos! E os alunos do Colégio Allan Kardec, mais de duzentos de ambos os sexos, sorriam, de antemão satisfeitos com a inevitável derrota que ia sofrer aquele sacerdote leviano, que tinha a infantilidade de falar em diabo naquela cidade, onde qualquer criança espírita sabe provar que essa falsa entidade não passa de uma idiota invencionisse dos tempos que já se foram nas brumosas dobras do passado. Eurípedes levantou-se e foi recebido por uma salva de palmas. Em seguida, erguendo a fronte ao Céu, implora o amparo de Deus para toda aquela gente ali consagrada, numa prece estraordinariamente bela que arranca lágrimas de enternecimento aos corações amigos do bem.

Implora a benção do Altíssimo para aquele padre ainda um tanto longe da senda do Amor, e encete a mais profunda réplica às palavras do pregador católico. Barsanulfo prova a inexistência do demônio e do inferno material eterno, e durante algumas horas, que pareceram minutos, dá àquela massa popular ali estacionada, presa pela magia daquela voz poderosamente vencedora, as mais concludentes provas da veracidade do Espiritismo, o puro Cristianismo, ao mesmo tempo que mostrava àquela compacta assistência os erros do Catolicismo. Quando concluiu a sua belíssima oração, palmas e vivas reboaram pelo espaço, e aquela gente, comovida, abraçava Barsanulfo, desprezando o pregador católico. Eurípedes dá ali mesma prova cabal de verdadeiro amor cristão: estreitando o sacerdote de encontro ao coração, num amplexo fraternal.

Sua desencarnação

Em 1918, a impiedosa gripe que tantas vítimas fez, invadiu também Sacramento. Eurípedes fôra também atingido, justamente quando ele não descansava um só momento, nem dia, nem noite quase. A febre abatia-o, de momento a momento, mas milhares de receitas partiam da sua abençoada boca e os medicamentos eram manipulados sob a sua carinhosa vigilância.

Quadro doloroso: milhares de pedidos de medicamentos àquele que se queimava numa febre de 40 graus! E eram todos atendidos. A enfermidade foi acabando com a fortaleza de aço daquele apóstolo da Caridade que medicava seus enfermos até o momento culminante do seu aniquilamento material.

A febre fazia-o delirar… A impressão era dolorosa… Todos choravam, angustiados, antevendo já o terrível desfecho, quando um onde de esperança acalmou os corações: Barsanulfo, despedindo dos laços materiais, exclamou “Graças, Pai, estou salvo!”. E todos pensaram que ele estava salvo da doença… mas ele dada graças a Deus pela redenção de seu espírito.

Às 6 horas de 1o. de novembro de 1918, Sacramento foi despertada pela notícia da desencarnação de Eurípedes, que reboou por todos os cantos como se um cataclisma descomunal desabasse sobre todos! Desde os primeiros momentos após o seu falecimento, o povo em peso, chorando, enchia a câmara mortuária daquele ente querido que se evoláva para o espaço.

Chovia. A Natureza, acompanhando em sua profunda dor os milhares de pessoas soluçantes que acompanhavam o féretro ao cemitério, derramava também as suas lágrimas sobre aquele corpo inerte que ia ser lançado ao pó da terra. E até hoje, a sua sepultura simples, como ele a quis, cobre-se de flores que mãos piedosas depositam sobre ela, , e no lar augusto sua mamãe foi sempre alvo da imorredoura gratidão de todos quando receberam bençãoes de seu filho querido. QUE JESUS ABENÇÕE O QUERIDO ESPÍRITO DE EURÍPEDES BARSANULFO!



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Gabriel Delanne

A obra de Allan Kardec, o inconfundível codificador do Espiritismo, tem tido continuadores e discípulos dedicados. Dentre eles, três nome ocupam lugar de destaque no mais alto plano dos valores culturais da doutrina: Camille Flammarion e Gabriel Delanne, no terreno científico, Leon Denis, no terreno filosófico do Espiritismo.

Gabriel Delanne, cujas obras são consideradas clássicas na literatura espírita, nasceu em Paris, no dia 23/03/1857, no mesmo ano em que saiu a 1a.edição do “Livro dos Espíritos” de Allan Kardec.

Era engenheiro.


Ainda menino, conhecerá pessoalmente o codificador do Espiritismo, na culta capital da França; sua educação, desde a infância, recebeu influência das idéias espíritas, visto que seu pai Alexandre Delanne, era íntimo de Kardec.

Coube justamente ao pai de Gabriel Delanne falar em nome dos espíritas no interior da França por ocasião do funeral de Kardec, em 1869, enquanto Flammarion discursou, a beira do túmulo, em nome dos espíritas parisienses.

Além de tais circunstâncias, a mão de Delanne, fôra um dos médiuns que trabalharam com Allan Kardec, segundo interessante depoimento do Dr.Canuto Abreu, na revista “Metapsíquica”, de S.Paulo, número 1, 1936.

Em virtude, naturalmente, da sua formação científica, Delanne dedicou-se, com especial carinho, às investigações psíquicas e à discussão de problemas antinentes ao campo da ciência, abstraindo-se do partidarismo religioso.

Devemos notar que Delanne, espírito habituado a lidar com as ciências positivas, por força em grande parte, de sua condição de engenheiro, sempre se apoiou na obra de Kardec. Basta dizer que no rol dos autores espíritas europeus, com exceção de Flammarion e Denis, Gabriel Delanne é o que maior número de vezes cita Kardec. A obra de Delanne é profundamente científica. Começou a escrever sobre o Espiritismo ainda no século passado*. Em 1885 saiu a 1a.edição de seu livro “O Espiritismo perante a ciência”. Daí por diante continuou a sua bibliografia na seguinte ordem: 1896 – “O Fenômeno Espírita”; 1897 – “A Evolução Anímica”; 1898 – “A Pesquisa sobre a Mediunidade”; 1899 – “A Alma é Imortal”. Entre 1909 – 11 publicou, em 2 grandes volumes, mais um obra de alto cunho científico: “As Aparições Materializadas de Vivos e Mortos”. Como obra póstuma, foi publicado em 1927 o seu último trabalho, sob o título: “Documentos para Servirem ao Estudo da Reencarnação”. Em 1925, ao lado de Jean Mayer, Leon Denis e outros luminares do Espiritismo, Gabriel Delanne tomou parte no Congresso Espírita Internacional realizado em Paris, sob a presidência de Leon Denis. Nesse Congresso, Delanne fez um discurso notável tendo afirmado Deus e a reencarnação como encerramento do ciclo terreno de sua obra. De fato, estava bem próximo o desenlance do grande escritor espírita.

Registrou-se a desencarnação de Gabriel Delanne pouco depois, no dia 15 de fevereiro de 1926. Toda a obra de Delanne é, à luz da ciência, um golpe certeiro no materialismo.

* século XIX
Revista Espírita Brasileira, setembro, 1949



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Gustavo Marcondes

Em 7 de dezembro de 1900, nasce Gustavo Marcondes, na cidade de Palmeiras, Paraná.

Lá mesmo realiza seus primeiros estudos. Depois, na cidade de Paranaguá, conclui o Curso de Contabilidade, mas sua verdadeira vocação estava voltada para o Magistério.

Nele destacou-se como professor, missão que abraçou para nunca mais abandonar. Em 1923, muda-se para Franca, São Paulo, e por meio de concurso público ingressa no Banco do Brasil.


Ainda iniciante no Espiritismo, Gustavo Marcondes passa a colaborar numa importante instituição da cidade que se ocupava da saúde psíquica dos mais carentes. Mas é na Casa Espírita Esperança e Fé onde inicia, com mais contundência, sua escalada de fé, amor e caridade em favor do próximo.

Casa-se, em 1925, com Mercedes Rufino Selles. Já como funcionário de carreira do Banco do Brasil, no ano seguinte é transferido para Ribeirão Preto. Nessa cidade, em 1928, inaugura a Escola e Biblioteca dos Pobres, instituição que ministrava diversas atividades como jardim da infância, curso primário e cursos noturnos para adultos, especialmente o Curso Prático de Comércio.

Na divulgação da Doutrina, por toda a região realizava palestras e mais palestras. Passou a colaborar também na União Espírita de Ribeirão Preto e no Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, onde idealizou e deu execução aos estudos doutrinários para a juventude, que se consolidou depois num importante movimento em prol da organização das Mocidades Espíritas. Ao aproveitar tão rica experiência, unindo a força juvenil com a sabedoria dos mais velhos, Gustavo Marcondes desenvolvia-se para a tribuna, para a imprensa e, sobretudo, para a assistência social.

Para Gustavo Marcondes o ato de realizar era muito simples, fácil mesmo. Mas tudo se concretizava por conta da força do seu ideal e da inspiração (da transpiração também) que dele tomava conta.

Prático e idealista, assim era o homem! E Campinas é a próxima parada de Gustavo Marcondes, para onde é transferido, em 1934. A cidade, a partir de então, teria uma outra história.

Empreendedor que era, em poucos anos o Apóstolo da Educação funda em Campinas o Instituto Popular Humberto de Campos, com os cursos pré-primário, de datilografia e de práticas de comércio, todos voltados para os carentes de recursos financeiros.

Em setembro de 1938, com a ajuda de outros abnegados companheiros, Gustavo Marcondes funda o Centro Espírita Allan Kardec, ao qual se juntou, como departamento, o Instituto Popular Humberto de Campos.

A sua obra, no entanto, parecia não ter mais fim. Após anos de trabalho duro, em 1949, inaugura a sede própria, na rua Irmã Serafina, centro de Campinas, que passa a abrigar o CEAK e o Instituto. Pouco depois, em outro local, um novo departamento é criado por ele: a Casa dos Meninos, um internato para jovens de 14 a 18 anos, que ali recebiam alimento, moradia e educação.

Incansável! Presidente do CEAK por mais de 30 anos, Gustavo Marcondes prestou inestimáveis serviços à comunidade. Além da obra material e assistencial, criou ainda a Mocidade Espírita, o Departamento de Evangelização Infanto-Juvenil e o Departamento Feminino.

Como fruto da semente, plantada há mais de 60 anos, hoje o CEAK é uma das mais respeitadas instituições do país no campo da assistência social e espiritual. Ocupa a 61ª posição entre as 400 maiores entidades beneficentes do Brasil, a 34ª do estado de São Paulo e a 14ª na categoria “Assistência a Crianças”, conforme classificação organizada e auditorada pela Kanitz & Associados (mais informações no site www.filantropia.org.br).
Missão cumprida aqui na Terra! Gustavo Marcondes desencarna em 26 de agosto de 1968. E o principal jornal da cidade, o “Correio Popular”, dedica uma página inteira para enaltecer sua vida e sua obra, assinalando: “Faleceu Gustavo Marcondes. Morreu um homem de bem”.

Ricardo Appendino



JoannadeAngelis


Joana de Ângelis

Um espírito que irradia ternura e sabedoria, despertando-nos para a vivência do amor na sua mais elevada expressão, mesmo que, para vivê-lo, seja-nos imposta grande soma de sacrifícios. Trata-se do Espírito que se faz conhecido pelo nome JOANA DE ÂNGELIS, e que, nas estradas dos séculos, vamos encontra-la na mansa figura de JOANA DE CUSA, numa discípula de Francisco de Assis, na grandiosa SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ e na intimorata JOANA ANGÉLICA DE JESUS.

Conheça agora cada um destes personagens que marcaram a história com o seu exemplo de humildade e heroísmo.


Foi contemporânea de Jesus Cristo em sua encarnação conhecida como JOANA DE CUSA. Viveu em Roma perto das termas de Caracola Esposa de Cusa, Despenseiro de Herodes Antigas Citada no Evangelho de Lucas (8:3 e 24:!0), como uma das mulheres piedosas.

Foi queimada viva no Coliseu, no ano de 68 dc, juntamente com outros cristãos. O Pecado – fidelidade a Jesus. No livro BOA NOVA de Humberto de Campos psicografia de Francisco Candido Xavier, percebe-se a dificuldade de JOANA DE CUSA de conciliar a sua crença com a vida ao lado de seu esposo. Buscou ouvir a palavra de conforto de Jesus que, ao invés de convida-la a engrossar as fileiras dos que o seguiam pelas ruas ou estradas da Galiléia, aconselhou-a a segui-lo a distancia, servindo dentro do próprio lar, tornando-se um verdadeiro exemplo de pessoa cristã, no atendimento ao próprio mais próximo: seu esposo, a quem deveria servir com amorosa dedicação, sendo fiel a Deus, amando o companheiro do mundo como se fora seu filho.

Discípula de Francisco de Assis (Século XIII).

Séculos depois, Francisco o “Pobrezinho de Deus” o “Sol de Assis”, reorganiza o “o Exercito de Amor do Rei Galileu”, ela também se candidata a viver com ele a simplicidade do Evangelho de Jesus, que a tudo ama e compreende, entoando a canção da fraternidade universal. Referencia a este fato encontramos no livro “A Serviço do Espiritismo”, de Nilson de S. Pereira e Divaldo P. Franco, encontramos a essa existência de Joana.

SÓROR JUANA INÊS DE LA CRUZ

No século XVII ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce em São Miguel de Nepantla / México, com o nome de JUANE DE ASBAJE. Y RAMIRES DE SANTILLANA, filha de pai basco e mãe indígena.
Viveu para a literatura. Tinha uma biblioteca de 4000 volumes, todos lidos e comentados.

Foi a primeira feminista do mundo, a primeira Teatróloga do mundo, considerada a maior poetisa da língua hispânica. Foi, também, musicista e pintora miniaturista, fez-se competente em medicina, Teologia Moral e Dogma, Direito Canônico e astronomia.

Falava e escrevia fluentemente seis idiomas, entre eles o português.
Para que s tenha uma idéia do valor da mesma, basta dizer que a nota de 100 pesos no México traz sua esfinge. O museu de Chapultepec tem várias alas dedicadas a ela.

Seu contato com o Brasil desta época refere-se a uma carta que ela escreveu e foi publicada em um jornal da Bahia, condenando o comportamento do Pe. Vieira, em um determinado assunto.

Numa busca incessante união com o divino, ansiosa por compreender DEUS através de sua criação, resolver ingressar no Convento das Carmelitas Descalças, ao 16 anos. Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à Corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a ordem de São Jerônimo da Conceição, podendo dedicar-se às letras e à ciência. Tomou, então, o nome de SOROR JUANE INES DE LA CRUZ.

JOANA ANGÉLICA DE JESUS

Reencarnou no Brasil em Salvador/BA em 11 de dezembro de 1761 e desencarnou em 20 de fevereiro de 1822.

Participou das lutas libertárias no Brasil.

Entrou na Ordem religiosa como noviça e chegou ao mais alto cargo – Abadessa.

Tinha feito voto de silêncio e se dedicou a reeducação das mulheres equivocadas as chamadas – “arrependidas”, que eram enterradas vivas por seus pais, isto é, internadas para não mais saírem.

Foi morta a golpes de baionetas por um soldado português ao defender corajosamente o convento e a honra das jovens que ali moravam.
Nos planos divino já haviam uma programação para sua vinda no Brasil, desde antes quando reencarnara no México. Daí, sua facilidade em aprender Português. No Brasil, estavam reencarnados e reencarnariam brevemente Espíritos ligados a ela. Dentre esses afeiçoados destacamos Amélia Rodrigues.

IMPORTANTE:
Fez parte do espírito da verdade que ditou a doutrina a Kardec.
Duas de suas comunicações psicográficas estão no Evangelho Segundo o Espiritismo.

“A paciência”, Capítulo IX item 7 e “ dar-se-á ao que tem”, capítulo XVIII item 15.



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Herculano Pires

“Não façamos do Espiritismo uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. Ele nos oferece uma concepção realista do mundo e uma visão viril do homem. Arquivemos para sempre as pregações de sacristão, os cursinhos de miniaturas de anjos, à semelhança das miniaturas japonesas de árvores. Enfrentemos os problemas doutrinários na perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais.

Reconheçamos a fragilidade humana, mas não nos esqueçamos da força e do poder do espírito encerrado no corpo.Não encaremos a vida cobertos de cinzas medievais.


Não façamos da existência um muro de lamentações. Somos artesões, artistas, operários, construtores do mundo e temos de construí-lo segundo o modelo dos mundos superiores que esplendem nas constelações. Estudemos a Doutrina aprofundando-lhe os princípios .Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu Evangelho. Essa é nossa tarefa.”

Com estas palavras, sempre atuais, iniciamos estes breves comentários sobre J. Herculano Pires que, como bem se pode ver no texto acima, conclama-nos ao trabalho.

Este valoroso trabalhador que fez de sua vida um exemplo de dignidade, trabalho, estudo, pertinácia e amor, desconheceu as fronteiras que limita o homem médio e, incansavelmente, dedicou sua vida em prol da divulgação à posteridade, valiosas e vastas obras de gêneros literários diversos, a maioria baseada no espiritismo, que se encontram elencadas em ordem cronológica em seu livro Ciência Espírita e Suas Implicações Terapêuticas.

Dono de uma cultura ímpar além de escritor renomado, foi brilhante conferencista e crítico severo e austero, em defesa dos princípios basilares da Doutrina e da essência de sua pureza.

Nascido na cidade de Avaré/SP, em 25 de setembro de 1914, retornou à pátria espiritual em 9 de março de 1979.

Desde cedo J. Herculano Pires mostrou seus dotes literários, publicando seu primeiro livro de contos aos 16 anos de idade.

Bacharelado e licenciado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, exerceu a cátedra durante muitos anos, tendo sendo membro ativo de vários Institutos de Filosofia, Psicologia e Parapsicologia, matérias que lecionou nos cursos do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e Diretor da União Brasileira de Escritores, além de Presidente do Sindicato dos Jornalistas. Em sua carreira jornalística exerceu todos os cargos possíveis dentro da imprensa paulista e paulistana.

Iniciou-se na Doutrina espírita através do raciocínio, da necessidade de entender os fenômenos que desde cedo o acompanhava. Assim como Eurípedes Barsanulfo, começou lendo O Livro dos Espíritos, e, segundo ele, não mais parou de estudá-lo.

No “Diários Associados”, de São Paulo, manteve durante quase 20 anos uma coluna espírita, usando o pseudônimo de Irmão Saulo; ainda no mesmo jornal, durante três anos, escreveu uma coluna juntamente com Francisco Cândido Xavier, da qual resultaram as obras: Chico Xavier Pede Licença, Na Era do Espírito, Astronautas do Além e Na Hora do Testemunho.

Escreveu uma trilogia denominada Caminhos do Espiritismo, onde lançou a tese da Filosofia Interexistencial, trilogia esta que se iniciou com o romance Barrabás, seguindo-se Lázaro e Madalena, onde expõe a tese da consciência pagã para a consciência cristã, fundada nas três figuras evangélicas que dão nome aos livros.

O Professor Jorge Rizzini, que conheceu e conviveu durante muitos anos com J. Herculano Pires, fala dele com a admiração de quem reconhece o trabalho admirável feito por ele em prol do espiritismo. Dizia Herculano Pires, conta-nos Rizzini, “Quem assume responsabilidades de divulgação e orientação no campo doutrinário não pode esconder a cabeça na areia quando a tempestade ruge”.

No Correio Fraterno do ABC, edição de abril de 1979 Rizzini assim escreve sobre Herculano Pires: “Toda vez que o movimento espírita se viu encoberto pelas nuvens umbralinas, o gigante saiu de peito aberto a campo e afastou-as, às vezes com um sopro só. Todos se recordam de seus debates na TV e na imprensa com médicos, padres, pastores, jornalistas, em defesa dos princípios espíritas e de médiuns de sua confiança, como Zé Arigó.”

No famoso caso das materializações de Uberaba, quando a revista “O Cruzeiro”, dos “Diários Associados”, promoveu um verdadeiro escândalo em todo o País, por pertencer à rede como empregado, J. Herculano Pires não pode apresentar sua réplica, porém, orientou o movimento doutrinário através de sua coluna espírita e folhetos.

A defesa da Causa Espírita foi feita por Jorge Rizzini, com os materiais sobre as materializações de Uberaba, que lhe foram fornecidos por Chico Xavier e Waldo Vieira.

Quando dos debates pela TV, algumas pessoas do movimento entendiam que Herculano Pires deveria ser mais paternal com seus opositores, ao que o Professor Rizzini contradiz dizendo “É Curioso! Como poderia o mestre tornar-se suave ao ver a Doutrina massacrada perante milhões de telespectadores? Nem Jesus agiu com mansidão perante a petulância dos fariseus vaidosos”, escreveu Herculano Pires. Professor Rizzini conclui sua argumentação sobre o tema citando as palavras do próprio Herculano Pires “Nem Kardec deixou de defender a Doutrina em nome de um falso conceito de fraternidade, e defendê-la com firmeza e energia, empregando as palavras devidas. As sensitivas que murcham ao ser tocadas não são flores do jardim espírita.

Porque espiritismo requer virilidade e franqueza de seus adeptos, o sim, sim e não, não do Evangelho, para impor-lhe neste mundo de ambigüidades e comodismo.”

Àqueles companheiros mais jovens na Doutrina e que não tiveram conhecimento dos debates acima referidos, não podem avaliar o quanto foi importante a participação de Herculano Pires naquele evento que sobremaneira divulgou a Doutrina e o movimento Espírita.

José Herculano Pires era um homem simples, hábitos singelos e sempre de bom humor. Acolhia com amor e carinho àqueles que o procuravam para uma palavra amiga e conselhos para seus problemas. Por vezes, até de madrugada, estava ele a ter com estes irmãos que buscavam em suas palavras o lenitivo para seus desassossegos.

E foi numa madrugada destas, em que estava escrevendo em sua velha máquina, que seu coração cessou de bater, pois que seu regresso à pátria espiritual era necessário.

A lacuna deixada pelo valoroso mestre não pode ser preenchida, porém, as lições, o zelo pela Doutrina e a certeza de que vale a pena seguir seu exemplo, foi seu maior legado à Causa.

José Carlos Branco



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Léon Denis

“Dentre os luminares que assumiram a responsabilidade da implantação da Verdade dos Espíritos na Terra, destaca-se Léon Denis, esse extraordinário pensador, justamente conhecido como o ‘filósofo do Espiritismo’”.

“Nasceu em 01 de janeiro de 1846, em Lorena, aldeia de Joanna D’Arc. Filho de modesto funcionário público, Joseph Denis, teve na infância, como mestras exclusivas, a necessidade, a adversidade e as dores, aliviadas pelo amor de sua mãe, Ana Lúcia Denis”.


“…Não possuindo recursos para freqüentar escolas, tornou-se auto-didata por imperativo espiritual, pois sua sede de conhecimentos não tinha limites: desde jovem atirava-se a todos os livros que encontrava e, mais tarde, após percorrer as ciências humanas, encontrou na filosofia a sua grande inclinação e a própria revelação de sua estupenda capacidade de perceber.

Conseguia, desde logo, transmitir o mais profundo conhecimento filosófico sob a moldura de uma simplicidade bela e humana, que atraía a imediata compreensão popular. E essa foi a grande norma do filósofo: escrever para reformar. Por isso seu estilo é tão humano, direto, lúcido, poético; seu trabalho, confortador, reformador, cristão.”

“Não se sabe ao certo quando Denis interessou-se pelo Espiritismo, todavia, registram seus biógrafos que, principalmente a partir de 1882, quando estava com trinta e oito anos, passou a dedicar-se intensamente à sua divulgação. Data dessa época a sua obra O Porquê da Vida, publicada em setembro de 1885.”

Grande orador, em 1900 foi aclamado presidente do Congresso Espírita e Espiritualista de Paris e em 1925 chegou à presidência do Congresso Espírita Internacional e foi presidente honorário da União Espírita Francesa, da Federação Espírita do Brasil, da Sociedade Francesa de Estudos Psíquicos e de quase todos os Congressos espíritas internacionais.

Autor dos livros: Depois da Morte; Cristianismo e Espiritismo; Catecismo Espírita; O Além e a Sobrevivência do Ser; No Invisível; O Problema do Ser, do Destino e da Dor; Joana D’Arc Médium; O Espiritismo e a Arte; Espiritismo e Socialismo; O Grande Enigma; O Mundo Invisível e a Guerra; O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, obras que o imortalizaram, como o continuador da mensagem de Allan Kardec. Seu nome associou-se à consolidação do Espiritismo.

“Conselheiro, guia, pastor, protetor dos pobres, sua principal tarefa era consolar em nome dos Espíritos. Amaram-no as crianças privadas de tudo e por ele tiradas dos porões sombrios e infectos e dirigidas para os colégios que fundara. Amou-o a mulher pobre, a mãe miserável, sobretudo, essa grande heroína, porque nos seus ensinamentos e apoio paternal encontravam o lenitivo sagrado para a vida.”

A partir de 1910 passou a sentir o gradativo enfraquecimento de sua visão.

Em 1927, com a saúde bastante debilitada, já tinha grandes dificuldades para mover-se. “…Cego, doente, não se queixava, todavia, sabendo que não desencarnaria sem cumprir sua extraordinária tarefa”. Por esta época, recebia as primeiras provas de “O Gênio Céltico e o Mundo Invisível”, auxiliado por Mlle. Baumard, sua secretária particular, que lia em voz alta e corrigia seguindo suas indicações.

“Quase todos os trabalhos de Léon Denis, foram influenciados por Allan Kardec, Espírito. Também o assistia uma luminosa entidade conhecida como l’Espirit Bleu, o Espírito Azul, devido ao maravilhoso azul que caracterizava sua aura, conforme percebiam os videntes. Igualmente o acompanhavam o Espírito de Jerônimo de Praga.”

“Cercado do carinho e do cuidado de seus amigos, que não o abandonavam um instante, terminou, efetivamente, a tarefa de seu último livro.

“Aos 81 anos de idade, o seu derradeiro instante no mundo da carne chegou manso, libertador, conscientemente sentido e aguardado pelo grande mestre. Eram vinte e uma horas do dia 12 de abril de 1927, quando Jesus recebeu de volta em Seu seio o espírito de Léon Denis, o mensageiro excelso da incomparável filosofia do amor, a única que compreendia e que pode transmitir à Humanidade”.

“A trajetória de Léon Denis caracteriza-se como um dos mais importantes marcos na história do Espiritismo. Sua própria vida constitui-se num novo conceito para a Humanidade.”

Colaboração: Cláudia Valente – Baseado em verbete



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Maria Dolores

MARIA, MARIA…

“Maria, Maria, é um dom, uma certa magia,
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar como
Outra qualquer do planeta
Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor,
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça,
É preciso ter sonho, sempre
Quem traz na pele essa marca possui a
Estranha mania de ter fé na vida”
(Maria, Maria de Milton Nascimento e Fernando Brant)


Era uma personalidade incomum. Forte, vibrante e de muita coragem. Mas muito simpática e bonita, tal como descrevem aqueles que com ela conviveram.

Maria de Carvalho Leite nasceu em Bonfim da Feira, Bahia, no dia 10 de setembro de 1900, onde passou toda a sua infância. Muito alegre e expansiva, ainda criança já mostrava habilidades artísticas, e pela poesia muito se interessava. Além do mais, tocava piano e gostava de pintura.

Porém, não se limitou somente ao gosto pelas artes. Com 16 anos, diplomou-se pelo Educandário dos Perdões. Lecionou um tempo neste próprio colégio para depois ser professora no Ginásio Carneiro Ribas, ambos em Salvador. Paralelamente ao magistério, escrevia nos jornais Diário de Notícias e O Imparcial, tendo ocupado neste último o cargo de redatora-chefe. Antes disso, foi a responsável pela ala feminina deste jornal, no qual publicou inúmeros sonetos e poemas.

Por inúmeras razões, até mesmo por trabalhar num órgão de imprensa, passou a escrever crônicas e poesias com o pseudônimo de Maria Dolores.

Casou-se com o médico Odilon Machado. Todavia, não teve sucesso no seu casamento. Desquitou-se (na época, ainda não havia divórcio), sem ter realizado o sonho de ser mãe. Aborrecida por não ter filhos, em 1936 adotou a menina Nilza Yara. Anos depois, viriam outras cinco meninas: Maria Regina e Maria Rita (1954), Leny e Eliene (1956) e Lisbeth (1959).

Maria Dolores tornou-se espírita, levada que foi pela sua ostensiva mediunidade, que a partir de então a colocou no serviço da caridade. Filiou-se ao “Movimento da Boa Vontade”, acolhendo em sua própria casa mais de uma dezena de crianças, a elas dando educação, roteiro para a vida e, principalmente, muito amor.

Sempre na seara do Bem, Maria Dolores fundou o grupo “As Mensageiras do Bem”, que se reunia para auxiliar a população pobre da cidade de Salvador, principalmente dos bairros da Liberdade, Pelourinho e adjacências. Nas datas festivas, distribuía em sua casa, por sua própria conta, roupas e gêneros alimentícios.

Suas preocupações sociais, entretanto, não paravam por aí, pois que, em suas crônicas e poesias, sempre fazia apelos contundentes para um mundo melhor, mais justo. Em nome da sabedoria da natureza, da união, da esperança, da alegria e do amor, sua palavra de ordem era exaltada pela diminuição das diferenças sociais, pela eliminação dos preconceitos e, sobretudo, pela defesa dos direitos humanos.

Antes do seu desencarne, em 1959, retirou da escrivaninha muito do que havia escrito, e publicou um livro: “Ciranda da Vida”, sua única obra editada em vida. São poesias e crônicas enfeixadas numa raridade editorial, e o resultado das vendas todo em benefício da instituição “Lar das Meninas Sem Lar”.

Hoje, como espírito, nos dá valiosa contribuição, por meio da psicografia do médium Francisco Cândido Xavier. Em 1971, a Federação Espírita Brasileira publicou seu livro Antologia da Espiritualidade. Logo depois, outros livros foram lançados, por outras editoras, sempre pela psicografia de Chico Xavier.

Divaldo Pereira Franco, em várias oportunidades, também tem recebido poemas assinados por Maria Dolores, todos de rara beleza. Alguns deles até foram publicados pela revista Presença Espírita e outros periódicos espíritas.

Como a evolução nunca pára, Maria Dolores ainda continua na sua marcha para o Bem, transmitindo-nos lições fundamentadas no otimismo e na esperança. Enfim, estímulos poderosos para a conquista da nossa elevação espiritual.

Ricardo P. Appendino



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Pedro de Camargo Vinícius

Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, Estado de S. Paulo, e desencarnado no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo.

Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, na primeira metade do presente século, sem levar em consideração a personalidade inconfundível de Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius.


Os seus primeiros anos de escolaridade foram feitos no Colégio Piracicabano, educandário de orientação metodista, de fundação norte-americana. A diretora do estabelecimento era então a missionária Martha H. Watts, de quem Pedro de Camargo guardou sempre as mais caras recordações e grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da desencarnação daquela missionária, ocorrida nos Estados Unidos: ´Sempre que se oferecia ensejo de inocular princípios de virtude e regras de moral, era quando se mostrava admirável, comprovando a rara e excepcional competência de que fora dotada para exercer tão sublime missão.

Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram- lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.

Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos; muito lhe devo eu.

Os princípios salutares de moral que me ministrou, assim como os conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem- me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo- lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando- lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi.´

Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de levar para lá famosos artistas.

Jamais teve tendência para a política. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do extinto Partido Republicano. Como não quisesse ´seguir outra disciplina que não fosse a do dever, e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência´, dizia ele mais tarde — esse critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais.

Os estudos blíblicos eram metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira que Pedro de Camargo se tornou um dos maiores entusiastas dessa matéria, tornando- se mais tarde uma das maiores autoridades no trato da exegese evangélica.

No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação. Dentre os seus fundadores salientava- se a figura veneranda de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição acarretou a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, tão necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo.

Um ano mais tarde, em 1905, Pedro de Camargo interessou- se pelo Espiritismo, uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que constituía incógnitas em seu Espírito. Tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial.

Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação das verdades evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Nessa época passou a adotar o pseudônimo de Vinícius; suas preleções eram estenografadas e logo em seguida largamente difundidas, fazendo com que sua fama se propagasse por toda a circunvizinhança.

No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu o confrade Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista e, juntamente com Thietre Diniz Cintra, fundou uma escola para evangelização da infância e juventude, tendo para tanto elaborado normas e diretrizes para esse gênero de educação.

Em 1939 tornou- se um dos diretores do Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil, levado ao ar, diariamente, através da Rádio Educadora de S. Paulo. Em 31 de março de 1940, quando a União Federativa Espírita Paulista fundou a Rádio Piratininga, emissora de cunho nitidamente espírita, Vinícius foi eleito seu diretor- superintendente e, em companhia de outros valores do Espiritismo paulista, orientou aquela emissora e seu programa espírita diário até o ano de 1942.

Nessa época Vinícius já havia se integrado na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, tornando- se um dos seus conselheiros e ali introduzindo as suas ´Tertúlias Evangélicas´, realizadas todos os domingos de manhã, com apreciável assistência que invariavelmente superlotava o seu salão.

Durante muitos anos, foi delegado da Federação Espírita Brasileira, em S. Paulo, representando- a em todas as solenidades onde a sua presença se fazia necessária.

Quando a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, em março de 1944, lançou o seu órgão ´O Semeador´, Vinícius foi designado seu diretor- gerente, cargo que desempenhou durante mais de uma década, emprestando àquele jornal a sua costumada cooperação.

Em outubro de 1949, em companhia de Carlos Jordão da Silva, integrou a representação do Estado de S. Paulo junto ao II Congresso Espírita Pan- americano, conclave de grande repercussão que se realizou no Rio de Janeiro. No ensejo desse acontecimento, reuniram- se na antiga Capital Federal várias representações de entidades espíritas de âmbito estadual, as quais, numa feliz gestão, conseguiram materializar o sonho de muitos seareiros espíritas, criando o Conselho Federativo Nacional e assinando o célebre Pacto Áureo de Unificação. Pedro de Camargo foi um dos signatários desse importante instrumento de pacificação espírita nacional, no dia 5 de outubro de 1949.

Vinícius foi assíduo colaborador de numerosos órgãos espíritas. De sua bibliografia destacamos os livros: ´Em torno do Mestre´, ´Na Seara do Mestre´, ´Nas Pegadas do Mestre´, ´Na Escola do Mestre´, ´O Mestre na Educação´, e ´Em Busca do Mestre´, obras de marcante relevância no campo da divulgação evangélico-doutrinária.

A sua ação se fez sentir vigorosamente quando se cogitou da fundação de uma instituição educacional espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal. Exultou- se com a fundação do Educandário Pestalozzi, na cidade de França, entretanto, o seu sonho concretizou- se quando da fundação do ´Instituto Espírita de Educação´, do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi fundado o ´Externato Hilário Ribeiro´, em cuja direção permaneceu até o ano de 1962.

A par de todas essas atividades, Pedro de Camargo ocupava assiduamente as tribunas das instituições espíritas, principalmente as da Capital do Estado, tornando- se um dos oradores mais requisitados e o que sempre conseguia atrair maior assistência. Homem dotado de ilibado caráter, comedido em suas atitudes e de moral inatacável, tornou- se, de direito e de fato, verdadeira bandeira do movimento espírita. Quando seu nome figurava à testa de qualquer realização, esta infundia confiança e respeito, dada a indiscutível projeção do seu nome e a sua qualidade de paladino das causas boas e nobres.

Vinícius também teve notória atuação no campo da assistência social espírita, situando, entretanto, em primeiro plano o trabalho em prol do esclarecimento evangélico- doutrinário, imprescindível à iluminação interior dos homens.

Fonte: site www.espirito.org.br



Francisco Peixoto Lins (Peixotinho)


Peixotinho

Dentre os grandes vultos da doutrina espírita de nosso país, temos que inscrever o nome de Francisco Peixoto Lins, o “Peixotinho”, notável médium de efeitos físicos, considerado o maior médium de materializações do Brasil.

Nasceu em Pacatuba, no Ceará, em 01 de fevereiro de 1905, e desencarnou em Campos, no Rio de Janeiro, em 16 de junho de 1966.

Teve uma infância cheia de dificuldades pois, tendo perdido os pais muito novo, foi criado por seus tios.


O desejo de seus tios era vê-lo seguir a carreira eclesiástica. Matricularam-no no seminário onde Peixotinho teve várias punições disciplinares por “ousar” contestar os dogmas da Igreja, uma vez que ele não entendia a razão de tantas diversidades. Se somos todos filhos de Deus, quais as razões de uns nascerem sadios perfeitos e outros doentes e deformados?

Na primeira fase de sua vida teve que conviver com os primeiros indícios de uma mediunidade extraordinária que muito o debilitou por desconhecer tais fenômenos, e no seu convívio ninguém estava preparado para ajudá-lo.Foi acometido de catalepsia e dado como morto pelos próprios familiares que quase o sepultaram vivo. Nesta ocasião um vizinho bondoso o levou até um Centro Espírita e, em menos de um mês, apresentou melhoras sensíveis. Neste Centro trabalhava o grande tribuno espírita Viana de Carvalho, que lhe falou da reencarnação e das leis imutáveis de nosso Pai Maior.

No livro “Personagens do Espiritismo”, seus autores Antonio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy apontam a fase obsessiva porque passou Peixotinho como sua “Estrada de Damasco”, onde descobriu a incomensurável bondade de Deus e a oportunidade dada a todos na caminhada rumo à redenção espiritual.

Pobre na verdadeira acepção do termo, Peixotinho jamais admitiu tirar o mais insignificante proveito pessoal em decorrência de suas faculdades, impondo-se a esse respeito rigorosa conduta, modelo a ser seguido dentro da Doutrina, dando de graça o que de graça se recebe. As faculdades mediúnicas não são bens disponíveis e negociáveis.

A gama de faculdades mediúnicas de Peixotinho era das mais variadas, mas, a que despertava maior atenção, eram os fenômenos de materializações, dos quais apontaremos apenas alguns.

Os transportes de pedras e de cristais eram comuns. Incomum era a origem das pedras. Umas eram de algum lugar do Oceano Pacífico; outras do Paraguai, Inglaterra e outras do Mar Morto. Algumas destas pedras estavam impregnadas de perfumes e de odores totalmente desconhecidos, porém, agradáveis ao olfato. O fenômeno do transporte de pedras tem o nome técnico de aporte, e é muito raro.

Muitos dos objetos materializados nas sessões em que Peixotinho participava estão no Museu Allan Kardec, no município de Campos. Alem dos objetos já citados, no museu também podem ser vistos fotos e cartas que Chico Xavier enviava ao médium.

Nas sessões aconteciam assistências espirituais e, por vezes, até cirurgias, além de muito estudo da codificação e das obras espíritas.

Além das materializações de pedras e cristais, havia a moldagem de mãos, pés e rostos em parafina, dos espíritos que ali se materializavam. Em algumas sessões aconteceram fenômenos de escrita direta de espírito no papel, não havendo nem caneta e nem lápis junto ao mesmo.

A irmã Scheila materializou-se em uma das reuniões e deixou escrito determinado Hino, de trás para frente e, que só pode ser lido do lado inverso ou ante um espelho.

Recebeu mensagens em Japonês sendo umas escritas no idioma clássico ou hiraganá e outra no dialeto popular chamado tacaná. Estas explicações foram dadas pelo Espírito Tongo, que se materializou em uma sessão e deu as explicações, em vista da dificuldade que teve uma professora de Japonês, para fazer a tradução.

Com Peixotinho aconteciam coisas realmente extraordinárias. Uma das mais interessantes aconteceu em uma reunião onde, ao psicografar com uma mão, dava mensagem de caráter científico, e com a outra de teor filosófico, enquanto transmitia uma mensagem psicofônica ou seja, três espíritos se comunicando ao mesmo tempo, pelo mesmo médium.

Pesquisando a vida e a obra de Peixotinho, podemos constatar que ele contribuiu sobremaneira para a difusão e comprovação da parte fenomênica do espiritismo. A comprovação daquela vida dinâmica do espírito que era revelada nos livros, sobretudo de André Luiz, tinha tantas semelhanças com os fenômenos produzidos por Peixotinho, que nos deixa a impressão que as revelações feitas através de Chico Xavier; a referência feita aos fenômenos de efeitos físicos, sobretudo das materializações, tem como exemplo algumas das reuniões de Peixotinho, tal a similaridade dos fatos, como se pode ver no livro “Missionários da Luz”.

Uma das maiores contribuições de Peixotinho para com o movimento espírita foi o papel que ele desempenhou na consolidação da utilização da Homeopatia. Hoje a Homeopatia já foi admitida nos meios acadêmicos e no tratamento da moderna medicina, liberando os espíritos das prescrições posto que os médicos homeopatas estão para atender e receitar os remédios homeopáticos.

A vida mediúnica deste valoroso médium é a constatação definitiva que as verdades e os fenômenos espíritas podem ser comprovados cientificamente. Já passamos da fase das comprovações, cabendo-nos, agora, o estudo, o aprendizado e a efetiva aplicação dos princípios da doutrina Espírita e, em especial, a caridade que ele tão bem soube praticar.

Jose Carlos Branco



Scheilla


Scheilla

Seu nome é …

“Guerra, guerra, guerra…”

E assim repetiu várias vezes. Era um espírito comunicando-se pelo médium Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, na cidade de Macaé, estado do Rio de Janeiro. Foi na época da Segunda Guerra Mundial, por volta de 1943, quando um grupo se reunia para iniciar um trabalho de orações para as vítimas dos combates.

“Quando a dor chegar para você, serei a promessa de alívio e consolação…”


Depois, o espírito viria a identificar-se como um alemão de nome Rodolfo, que fora convocado para a guerra. Contou também que servira como oficial-médico e que ouvira de seu pai, em outras ocasiões, que jamais deveria matar. Matar, nunca, é o que seu pai sempre lhe dizia. Daí em diante, assumiu o compromisso de que sua missão era salvar, não matar.

“Se o cenário se converter em noite escura, serei a estrela-guia para o rumo certo…”

Ocorre que, quando a Alemanha dominou a Polônia, os oficiais poloneses vencidos foram enfileirados para serem fuzilados. Dentre os oficiais alemães encarregados da execução, um deles recusou-se a fazê-lo. Era ele, Rodolfo.

“Quando a fadiga se apresentar, serei o abrigo seguro e específico…”

Essa recusa, porém, valeu para ele uma sentença: a morte. Sumariamente condenado, como traidor da pátria, foi executado ao lado dos oficiais poloneses, a sangue frio, impiedosamente.

“Quando os conflitos se fizerem presentes, serei a indicação para a calma e a fraternidade…”

Continuando seu relato, contou também que, logo após o seu desencarne, manifestou-se espiritualmente ao pai e disse: “Pai, já estou em outra dimensão da vida. Cumpri a palavra empenhada. Não matei, preferi morrer”.

“Em todos os momentos, desejo ser sua companheira fiel…”

E o espírito Rodolfo, que assinava “O Fuzilado”, continuava a se manifestar por Peixotinho. Certa vez, disse: “Orem por minha irmã, ela está correndo perigo”. Passados alguns dias, novamente manifesta-se e diz: “Minha irmã acabou de desencarnar. Foi vítima de bombardeio da aviação. Ela e meu pai desencarnaram”. Dias depois, numa noite memorável, confirmando o que dissera Rodolfo, o espírito de uma jovem loura materializava-se diante do grupo. Era ela, sua irmã, e se apresentava com o nome de Scheilla.

“Sou amiga de todos, embora quase sempre encontre guarida entre os crentes e idealistas…”

Dela se sabe, entre tantos exemplos de amor e caridade que, antes de desencarnar, aos 28 anos, atuava como enfermeira, ajudando no atendimento aos feridos nos combates da guerra; e que se esquecia de si mesma, pois pensava apenas em aliviar os sofredores. Após sua morte física, tudo indica também que Scheilla tenha se vinculado às falanges espirituais que atuam em nome de Jesus, principalmente aqui no Brasil.

“Hoje, bato à sua porta. Não me recuse morada em seu coração…”

Antes da sua última encarnação na Alemanha, porém, temos notícias apenas de uma outra existência sua aqui na Terra. Foi na França, no século XVI, quando se chamava Joana Francisca Frémiot. Joana nasceu em Dijon, em 28/1/1572, e desencarnou em Moulins, em 13/12/1641. Casou-se aos 20 anos com o Barão de Chantal, que pouco tempo depois viria a desencarnar. Desde então passou a dividir sua vida entre orações e obras de caridade, além de educar seus 4 filhos. Em 1610, junto com o bispo de Genebra, Francisco de Salles, fundou em Annecy a Congregação da Visitação, que chegou a contar, no ano da sua morte, com 87 conventos e 6.500 religiosos. Em reconhecimento à sua obra, em 1767 viria a ser canonizada pela Igreja Católica, mais de um século após o seu desencarne, passando para a história como Santa Joana de Chantal.

“Aonde chego, renovo os pensamentos e vivifico a certeza no futuro melhor…”

Ainda no grupo do médium Peixotinho, as manifestações dela vinham se repetindo várias vezes, seguidas de outros fenômenos de efeitos físicos, tais como o aparecimento de flores e outros objetos que trazia ao ambiente. Visualmente, é conhecida em todo o país por meio de um retrato mediúnico seu, que durante uma materialização a revelou de olhos azuis, pele clara, cabelos muito louros e um suave sorriso. Sorriso, aliás, que lhe inspiram simpatia e amizade.

“Sou irmã do otimismo e filha da confiança em Deus…”

A presença de Scheilla tem sido registrada por vários médiuns em diversos grupos espíritas do país. Escorada na virtude da caridade, com especial carinho e dedicação oferece assistência aos enfermos do corpo e do espírito. Além do mais, Scheilla sempre se caracterizou por trazer mensagens de alento e consolação, renovando o ânimo e fortalecendo a fé no amor divino.

“Agora, sou também sua irmã.
Dê-me sua mão.
Venha comigo.
Meu nome é ESPERANÇA”.

PS: Os fragmentos de trecho, em negrito, compõem uma das mensagens ditadas pelo espírito Scheilla ao médium Clayton Levy, e está no livro “A Mensagem do Dia”.



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Therezinha Oliveira

Natural de Cravinhos-SP, passou parte da sua infância em Santos e, após a morte do seu pai, em 1940, morou por um tempo com a mãe e seus irmãos em Ribeirão Preto. Porém, foi em Campinas, desde os seus 26 anos de idade, onde fixou residência. Por sua experiência, conhecimento, ativa dedicação e fidelidade aos postulados espíritas, Therezinha Oliveira é considerada um dos maiores ícones do Espiritismo no Brasil.

Ao longo dos seus 82 anos, proferiu mais de duas mil palestras em todo o Brasil e no exterior. Suas obras já ultrapassaram a marca de 700 mil exemplares publicados, sendo 300 mil de livros e 400 mil de livretos.


Ativa e moderna, criou o Blog Therezinha Oliveira em abril de 2010. Um colaborador do CEAK a ajudava com as questões técnicas e mais práticas de acesso ao blog, mas era ela quem respondia pessoalmente aos posts. Com uma meta de duas postagens semanais, ainda no início, este número chegou a atingir 20 postagens semanais.

Foram 1.658 posts do início até sua última postagem entre comentários e perguntas dos seus leitores sobre os mais diversos temas sobre a doutrina espírita como mediunidade, desencarnação de entes queridos, sonhos e desequilíbrios espirituais entre muitos outros. Em alguns casos D. Therezinha (como era carinhosamente chamada) estendia a conversa, marcava com o leitor no CEAK para melhor esclarecê-lo e ajudá-lo de forma mais próxima.

Sua última postagem aconteceu no dia 26 de agosto de 2013, às 15h31, esclarecendo dúvidas de uma leitora que sofria com alguns efeitos após receber o passe em uma casa espírita não identificada. A leitora leu um texto sobre PASSE – ALGUNS EFEITOS NOS ASSISTIDOS.

Therezinha desencarnou em Campinas, dois dias depois, em dia 28 de agosto de 2013. Seu blog ainda está no ar. Conheça: BLOG DA THEREZINHA



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William Crookes

Nascido em Londres no dia 17 de junho de 1832, William Crookes desencarnou em 4 de abril de 1919, na cidade em que nascera.

Inglês de nascimento, educado sob a influência inglesa, tendo concorrido brilhantemente para aumentar a projeção da Inglaterra perante o mundo, William Crookes é, todavia, um nome universal, uma glória que está acima das divisões territoriais ou das confinações geográficas, porque a sua obra é um dos maiores patrimônios da Humanidade.

Sir William Crookes foi professor substituto do Colégio Real com vinte anos. (Os ingleses dão o tratamento de “Sir” às pessoas que têm títulos especiais, estabelecendo, assim, a diferença entre aquele tratamento e o tratamento comum de “Mr.”, equilavente a “Senhor” em português.


Crookes, segundo os costumes ingleses, tinha o tratamento de “Sir”). Em 1854 foi nomeado Inspetor da Seção de metereologia do Observatório de Radcliffe. Fundou, em 1864, o Quarterly Journal od Science. Físico notável, foi eleito membro da Sociedade Real em 1863. Dez anos depois, em 1873, quando já estava seriamente preocupado com os fenômenos espíritas, inventou o radiômetro. Sua fama correu o mundo. Em 1878 Crookes apresentou à Sociedade Real o seu célebre trabalho sobre o 4o. estado da matéria, acontecimento científico de repercussão internacional. Admitido na Sociedade Química de Londres, tornou-se uma das maiores figuras dessa importante sociedade, especialmente depois de seu estudo sobre a natureza dos corpos simples.

Foi presidente da Royal Society (1913-15) e de várias sociedades de cultura.

Consultor científico do Governo Britânico.

Enriqueceu a ciência com notáveis trabalhos originais: descoberta da matéria radiante, do talio, do radiômetro, etc. Obras: Expiriencias on Repulsion From Radiation, Vaccum Molecular Fisics (1878) Select Methods of Chemical Analisis, Reseaches in the fenomena of espiritualism (1878).

Interessa-nos mais de perto, nesta página, o papel de William Crookes no Espiritismo, uma vez que a sua obra no campo da Física e da Química é tão imensa, tão notável, tão comentada pelo mundo em fora, notadamente quando se fala na matéria radiante, que a sua biografia já se tornou largamente conhecida.

Crookes assistiu por 3 anos em seu laboratório em Londres, à materialização integral de katie King, mediu, pesou e examinou meticulosamente o espírito, constatando a realidade tangível da imortalidade da alma e do poder extraordinário que possui o espírito, de utilizar-se da matéria física para se tornar tão real e vivo como os encarnados.

É bem verdade que certos homens de ciência, que não têm, todavia, o verdadeiro “espírito científico”, também investigaram a fenomenologia espírita, chegaram a resultados positivos, mas não tiveram a coragem de Crookes, porque se subordinaram às conveniências do preconceito. Crookes não procedeu assim, não usou subterfúgios, não criou termos ambíguos: AFIRMOU, deu testemunho!

Basta dizer que o livro Fatos Espíritas de William Crookes ainda não teve desmentido! De fato esse grande livro, que poderia muito bem ter o nome de Tratado da Ciência Espírita, como tantos outros livros de títulos simples, inclusive o Liivro dos Médiuns, de Allan Kardec, reune as publicações feitas pelo cientista inglês no “Quarterly Journal of Science”, em 1874. Durante muito tempo, com o rigor dos homens que fazem, de fato, ciência, Crookes realizou experiências com a médium Florence Cook, tendo deixado depoimento irrespondível. A materialização do espírito de Katie King é um fato científico em que William Crookes empenha toda a glória de seu nome.

Discursando, em 1898, no Congresso da Associação Britânica, Crookes fez referências a suas investigações no terreno do Espiritismo e afirmou solenemente: “Nada tenho que retratar dessas experiências, e mantenho as minhas verificações, já publicadas, podendo mesmo a elas acrescentar muita coisa”.

Isto, como se vê, depois de vinte anos. E houve quem dissesse que William Crookes mudara de opinião… A obra de William Crookes é uma das colunas científicas do Espiritismo. Em 1907 recebeu o prêmio Nobel de Química, em 1910 foi agraciado com a “Ordem do Mérito”.

Extraído da revista “Curso de Noções Elementares de Espiritismo”, 1967 – Texto de Deolindo Amorim (Revista Espírita do Brasil, 1949)



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Yvonne do Amaral Pereira

Dentre os grandes escritores espíritas que através dos tempos nos brindaram com obras de cunho moral e de grandes ensinamentos doutrinários, temos que colocar o nome de Yvonne do Amaral Pereira.

Foi uma grande divulgadora da Doutrina e do Movimento Espírita no Brasil.

De notável mediunidade, atuou durante muitos anos como médium receitista, orientada por Bezerra de Menezes e outros grandes vultos do espiritismo, auxiliando a todos aqueles que a procuravam em busca de um lenitivo para seus males do corpo e da alma.


Tinha verdadeira paixão pelo trabalho em prol dos suicidas. Em suas preces diárias e em suas obras, especialmente “Memórias de um Suicida”, buscou ajudar aqueles que, em desespero, tentaram ou atentaram contra a própria vida, comprometendo severamente a evolução espiritual que todos buscamos.

Grande estudiosa do Evangelho e das obras Espíritas, teve inúmeros trabalhos e artigos publicados na revista “Reformador”.

Era uma preletora de admirável valor, tendo proferido palestras em diversos Centros e Casas Espíritas, sempre com a mesma dedicação com que atendia a todos em seu trabalho do dia-a-dia.

Estudiosa que era, Yvonne Pereira sabia como poucos o Esperanto e através destes conhecimentos, comunicava-se com muitas outras pessoas do exterior, sempre em busca de novos aprendizados.

Sua vida foi intensa em favor do próximo. Deixou-nos um legado composto por várias obras de grande significação e ensinamentos, através de seus livros mediúnicos publicados pela Federação Espírita do Brasil.

Tanto os romances quanto as histórias que psicografou e publicou, foram ditados e orientados por grandes vultos do espiritismo como Bezerra de Menezes, com quem teve maior contato, seja pela psicografia, seja pelos atendimentos diários, Léon Denis, Camilo Castelo Branco, Léon Tolstoi e muitos outros.

Cada uma das obras de Yvonne Pereira mostra uma particularidade do mundo invisível e uma grande lição a ser aprendida e vivida.

Seus 12 livros publicados pela FEB estão assim distribuídos: “Devassando o Invisível” e “Recordações da Mediunidade”, narram suas experiências quando em desdobramento; nestas experiências, foi sempre assistida pelos Espíritos Bezerra de Menezes e Charles .“O Cavaleiro de Numiers”, “Drama da Bretanha” e “Nas Voragens do Pecado”, os dois primeiros esboçados por Roberto de Canalejas, foram concluídos depois de 40 anos por Charles. “Memórias de um Suicida”, ditado por Camilo Castelo Branco, que muito tem a ver com suas obras quando encarnado e, segundo Francisco Candido Xavier, é o melhor livro que retrata o umbral. “Ressurreição e Vida”, livro de contos ditado por Léon Tolstoi. “Nas Telas do Infinito”, traz em sua parte primeira uma história de Bezerra de Menezes e, na segunda, uma novela ditada por Camilo Castelo Branco, retratando uma narrativa recheada de emoções, sobre um castelo mal- assombrado. “A Tragédia de Santa Maria” relata uma história de amor e “Dramas da Obsessão”, os dois ditados por Bezerra de Menezes. “Amor e Ódio”, narrativa sobre o Espírito Gastão de Saint Pierre, ditada por Charles. “Sublimação”, que trata das implicações morais e as danosas conseqüências do suicídio, refletidas na vida além-túmulo.

Além das obras publicadas, Yvonne Pereira nos legou outras obras de interesse como “Evangelho aos Simples”, “A Lei de Deus”, “Contos Amigos”, “Pontos Doutrinários”, “O Livro de Eneida” e “A Família Espírita”.

Jorge Rizzini, citado por Augusto Marques de Freitas, secretário do Centro Espírita Yvonne Pereira, conta-nos que ela teria escrito mais 10 livros infanto-juvenis, ditados por Bezerra de Menezes e que se acham guardados há pelo menos 20 anos nos arquivos da FEB. Quem revelou isto a Rizzini foi a própria médium.

Yvonne Pereira tinha um temperamento tímido que lhe dificultava o relacionamento, porém, não foi empecilho ao trabalho árduo e profícuo desta alma generosa e dedicada.
O pai de Yvonne era funcionário público, tendo que se mudar constantemente, por força da profissão. Assim, morou em Lavras, Juiz de Fora, Pedro Leopoldo e Coronel Pacheco, em Minas Gerais, e Barra do Pirai no Rio de Janeiro.

Por todas estas cidades que passou, exerceu cargos ligados à assistência social, além do trabalho mediúnico ao qual se dedicou incessantemente.

Além do imenso legado de Yvonne Pereira, vários acontecimentos de sua vida merecem ser destacados.

Logo aos 29 dias de vida foi acometida de catalepsia e, no estado letárgico que ficou, quase foi enterrada viva.

Aos cinco anos de idade já via e conversava com os espíritos e aos 10 anos já assistia a reuniões mediúnicas. Aos doze seu pai deu-lhe “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, começou a estudar e não mais parou.

No dia 10 de julho de 1989, o Centro Espírita “Yvonne Pereira” recebeu uma carta na qual o subscritor narrava que, desesperado, pensava em dar fim a sua vida quando, uma senhora idosa, bem trajada e sorridente, apareceu e disse-lhe: “Meu nome é Yvonne do Amaral Pereira. Sei o que pensas fazer. Desista. Escreva uma carta para Rio das Flores/RJ, que de lá receberá ajuda”. Além de dissuadi-lo do suicídio, Yvonne ainda lhe incutiu o respeito pela vida e a grandiosidade deste privilégio.

Na elaboração de suas obras, Yvonne Pereira comumente era conduzida pelos mentores ao além, para depois poder passar para o papel, a mensagem do plano espiritual.

Reencarnou em 24 de dezembro de 1900 e desencarnou em 09 de março de 1984.

José Carlos Branco