A maternidade é muito aguardada e idealizada pela mulher. Este é um período de grandes transformações biológicas, sociais, culturais e emocionais, o que, por si só, já indica sua amplitude e complexidade. É no pós-parto ou puerpério, no entanto, que tais transformações se acentuam e que, por vezes, culminam para o desenvolvimento de alguns transtornos psiquiátricos.
A Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) contempla, em seu quinto capítulo, os transtornos mentais e comportamentais relacionados ao puerpério que são: blues ou tristeza puerperal, depressão pós-parto, psicose materna e transtornos ansiosas do puerpério.
O baby blues ou blues puerperal (blues vem do inglês e significa tristeza) atinge cerca de 80% das mães e surge por volta do terceiro dia do pós-parto, período em que a mãe já recebeu alta da maternidade e está à frente dos cuidados com ela própria e com o recém-nascido. Entre os sintomas mais comuns estão tristeza intensa com choro frequente e desânimo, considerado uma reação fisiológica no puerpério imediato com diminuição espontânea dos sintomas em até duas semanas.
Quando os sintomas permanecem após esse período de duas semanas e ainda se intensificam podendo se estender por mais de um ano, pode-se dizer que se caracteriza aí um possível quadro de depressão pós-parto, transtorno psíquico que atinge de 10 a 42% das puérperas. Tal quadro possui importante repercussão na saúde materna, no vínculo mãe-filho, aleitamento materno, desenvolvimento da criança e relação familiar.
Em 1994 a Associação Psiquiátrica Americana (APA) reconheceu a depressão pós-parto (DPP) como transtorno de humor específico, com início no primeiro mês do puerpério e duração mínima de duas semanas. Entre os principais sintomas estão: humor deprimido, anedonia que é a perda da capacidade de sentir qualquer tipo prazer o tempo todo, mudanças do apetite ou peso, alterações do sono, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, sentimento de culpa ou inutilidade, capacidade diminuída de concentração, do raciocínio ou tomada de decisão, e pensamentos recorrentes de morte.
Se por um lado, nos quadros de depressão os sintomas vão se agravando lentamente, a psicose puerperal se instala bruscamente com curta duração. Os sintomas envolvem comportamentos de repúdio ou superproteção do bebê, comprometimento do juízo de realidade, delírios e alucinações geralmente relativos à criança com risco de suicídio, infanticídio e auto e/ou heteroagressão que é a agressão ou ação destrutiva voltadas ao mundo exterior. A psicose ocorre em 0,1% a 0,2% das puérperas, com maior incidência em primíparas (primeiro parto).
Devido a sua complexidade, os sofrimentos psíquicos do puerpério são de difícil percepção. Por isso, o cuidado, atenção e compreensão com a mulher nesse período é de fundamental importância, pois quando recebe tal suporte rapidamente os sintomas diminuem até o seu desaparecimento por completo.
Vale ressaltar que ao sinal de qualquer sintoma é primordial a imediata busca por uma ajuda profissional que dará o diagnóstico correto e tratamento adequado.
Por: Pollyana Folador
REFERÊNCIAS:
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Excelente matéria, realmente muitas mães sofrem com esse tipo de transtorno pós- parto, pois são tantas mudanças que ocorrem durante a gestação, que quando se vêem numa situação como essa, não tem a minima noção de como buscar ajuda ou identificar o que está acontecendo. Parabéns pelo conteúdo, certamente vai ajudar a muitas mulheres que passam por esse transtorno.