Estamos em 2024 e a LGBTfobia ainda marca a comunidade com as violências perpetradas sob os corpos LGBTQIAPN+ são incontáveis. Dia 29 de janeiro é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, sendo este um dia de celebração pelos direitos conquistados ao longo dos anos, mas mesmo assim é dia de movimento, de luta e resistência. Infelizmente, o Brasil ainda é o país que mais mata a população LGBTQIAPN+.
O Educandário Eurípedes, como uma Organização da Sociedade Civil, que visa a garantia de direito, realizou um bate papo com Karen da Silva (50), usuária do Centro de Convivência Inclusivo Intergeracional – CCII, para discutirmos sobre a pauta e pensar em estratégias socioeducativas para enfrentamento da transfobia.
Ao ser questionada sobre as dificuldades que encontra por viver como uma mulher trans, Karen relata que sua maior dificuldade atualmente é ocupar os espaços que são dela por direito, e que esta dificuldade está relacionada a sua identidade de gênero, “há olhares que julgam e fere, me sinto às vezes como se fosse uma aberração”.
Para o Assistente Social, Vitor Eusébio, a sociedade precisa ainda passar por um processo de evolução, e reconhecer as diversidades de corpos que existem, e que estas pessoas possuem direitos básicos previstos como: trabalho e acesso à educação, porém estes acessos são roubados pelo preconceito e transfobia.
Segundo Karen, assumir-se com uma identidade trans para sua família foi um desafio. “Assumir minha real identidade, depois de já ser mãe, estar casada e ainda conviver com o fundamentalismo religioso e o machismo foi um desafio, onde precisei de resiliência e uma rede de apoio para seguir.”
Karen consegue perceber os avanços que a comunidade trans vem alcançando, mas para ela, ainda há muito o que ser feito, principalmente pelos espaços de saúde pública, para que haja uma garantia de cuidado com a saúde mental e física de homens e mulheres trans. Karen lembra do início de sua hormonioterapia, onde precisou fazer sua própria aplicação de hormônio, já que geralmente não havia esta oferta no Centro de Saúde de referência, como ter que lidar com o preconceito dos próprios profissionais da saúde.
Quando se trabalha com garantia de direito é preciso que a atuação profissional se encontre com as vozes silenciadas pelas violências estruturais e fragilizadas pelo preconceito social, para que encontrem um sentido e ecoem, trazendo visibilidade e relevância para esses corpos que estão invisíveis para as políticas públicas e consequentemente na sociedade como um todo, afirma o Assistente Social Vitor Eusébio.
Ao ser questionada sobre espaços que ofertaram uma rede apoio, e a auxiliaram na busca pela sua real identidade, Karen traz o Centro de Referência LGBT de Campinas e o Laboratório Transcender, pois ao ser acolhida nestes espaços o sentimento que a atravessa é de saber que não está sozinha, e também compreendeu que existem outros homens e mulheres trans que buscam pelo mesmo reconhecimento e aceitação.
Outro espaço significativo para Karen é o Educandário Eurípedes. “Aqui tive um início desafiador, as pessoas não me entendiam direito”, mas refletindo sobre o papel de empoderamento para que Karen alcançasse voos altos, promoveu-se espaços de roda, partilha e aprendizagem. “Aqui vocês fizeram minha voz ter sentido, pude ensinar e aprender sobre mim, meu corpo e minha existência.”
Para a Educadora Social Janayna e Psicóloga Vanessa, é relevante a possibilidade de construirmos formações e intervenções cotidianas e contínuas. “A transfobia ocorre ao longo de todos os dias do ano, não podemos reservar um dia, ou pouco tempo para uma questão social que vem se agravando”, afirma a educadora.
Karen é um exemplo de resiliência e resistência, e reconhece que o seu processo foi longo, mas que fez sentido para que ela conseguisse construir a sua real identidade. “Para saber quem você é, a estrada é longa.”
Que não precisemos somente dos dias 29 de janeiro para dar visibilidade a pessoas trans, que possamos nos perceber e reconhecer que nosso mundo é plural e que dentro dele diversas formas se encaixam, até mesmo aquela que em nosso achismo, julgamos incapaz de se enquadrar.
Mais respeito e mais empatia! Corpos Trans existem e estão mais VIVOS do que nunca!
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Equipe CCII
CEAK Educandário Eurípedes